Solitário, todo envergado pelo tempo, cabelos de um encaracolado repugnante, lá ia ele. De andar trôpego, subia e descia ladeira silenciosamente, sem reclamar nem contestar nada nem ninguém.Solitário, todo envergado pelo tempo, cabelos de um encaracolado repugnante, lá ia ele. De andar trôpego, subia e descia ladeira silenciosamente, sem reclamar nem contestar nada nem ninguém.
“Olá, sr. Severino, gritavam alguns que passavam.”. Ele acenava suavemente, mal podendo falar. Talvez a fome ou a sujeira que o corpo carregava dificultassem a emissão de voz. A cabeça pendia para frente, e o corpo maltrapilho, cansado da vida, seguia sem horizontes. Meramente seguia sem teto, sem família, sem nada. A solidão de sr. Severino doía em alguns. Em mim, corroía-me a alma, e era frustrante para mim não poder mudar aquele cenário de vida. Um corpo que apenas transitava no silêncio, raramente esboçando um ligeiro sorriso. Talvez fizesse isso como forma de alimentar a alma com uma pequena dose de felicidade. Ser reconhecido e cumprimentado por alguns servia de bálsamo para o coração, para prosseguir.
Pobre do senhor Severino !!!
Lá ia ele seguindo a vida numa miséria de dar dó… Lá ia eu e tantos seguindo a vida transbordante de materialismos …