1 – DOMINGO DO PÃO DA VIDA
João 6,24-35
A multidão saciada pelo pão misteriosamente multiplicado volta a Jesus, infelizmente, não por haver entendido o “mistério”, o sentido mesmo do “sinal”… Vem atrás de mais pão, do pão fácil. Não se deu conta de que tudo foi possível porque alguém, um menino, colocou à disposição de todos o pouco que tinha. Alguém que acreditou na palavra e no poder de Jesus…
Ele, sim, é o Pão vivo, descido do céu, capaz de dar vida ao mundo…
Alimentar-se dele é abrir o coração para sua mensagem de solidariedade e partilha, capaz de transformar este mundo eivado de egoísmo, injustiça e violência, num mundo de amor, de fraternidade, de justiça e de paz, Reino de Deus!
Nosso encontro com Jesus, hoje, nesta celebração, é uma bela oportunidade de abrirmos aindamais os olhos, a mente e o coração para o sentido profundo do “sinal”.
E nosso canto deverá ser capaz de nos fazer experimentar, na alegria, o sabor divino deste Pão, que nos vem alimentar com os nutrientes do Reino.
Nesses dias sombrios, em que repre-sentantes de Movimentos Populares se encontram em GREVE DE FOME, em Brasília, escutemos Papa Francis-co. Em visita a nosso Continente, ele disse às pessoas e grupos da Igreja: “Não importa a quantas missas de domingo você foi, se você não tem um coração solidário. Se você não sa-be o que está acontecendo em sua cidade, sua fé é muito fraca, está doente ou morta.” E convidou bispos, padres e agentes pastorais a muda-rem a compreensão que muitos ainda têm da missão da lgreja. Não é cristã uma Igreja voltada para si mesma e cujo trabalho seja meramente religio-so. O papa afirmou fortemente que toda a Igreja deve estar disposta a “acompanhar as pessoas que bus-cam superar as graves situações de injustiça que sofrem os excluídos em todo o mundo”.
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PAPA FRANCISCO, aos Movimentos Populares do Mundo:
“Nas vossas cartas e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injustiças que sofrem em cada atividade laboral, em cada bairro, em cada território. São tantas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar.
Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos nós reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas. Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos nós que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza?
Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos… E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco.
Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que toque também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença.”
Dia 10 de agosto será o DIA DO BASTA: o Brasil vai parar para protestar contra este sistema que suga o sangue do povo e prende quem faz pelo povo. Escutando o apelo do Papa, vamos mostrar, unidos, que queremos MUDANÇA JÁ! E LULA LIVRE!
2 – Domingo do PÃO DESCIDO DO CÉU
João 6,41-51
“Santo de casa não faz milagre”, e, se faz, a gente não percebe, nem está a fim de lhe dar alguma importância. Mesmo depois do “sinal” da multiplicação dos pães, o “filho de José” não merecia ser levado a sério quando se apresentava como “pão descido do céu”…
Mas os equívocos de uma religião distorcida continuam ainda hoje. Muitos cristãos aprenderam da catequese ou da teologia que os gestos salvíficos do Senhor se perpetuam ao longo dos séculos e por todos os lugares, através dos Sacramentos. Cultuam, encantados, a Presença Real do Senhor, sobretudo, no Pão e no Vinho da Eucaristia, o “Santíssimo Sacramento”!…
No entanto, não aprenderam a perceber, primeiro, que em cada gesto sincero de amor, nas expressões mais simples e cotidianas de cuidado e serviço, de solidariedade e partilha, em família, entre vizinhos, no ambiente de trabalho ou de escola, é o próprio Deus quem se manifesta, é seu Verbo que se faz carne. Precisa só ter olhos de ver e abrir o coração, deixando-se atrair pelo Pai e aprender as coisas de Deus, os segredos do seu Reino, da sabedoria e das vivências cotidianas dos mais simples e pequeninos. E assim, muitos cristãos, à espera da missa, perdem as oportunidades de cada instante. Mas quem não se empolga nem cresce com as manifestações de amor e solidariedade que se dão em seu ambiente de vida, durante a semana, em vão cantará, no domingo, os louvores do Deus-Amor, ao participar da Ceia do Senhor.
Prestemos bem atenção, ao que nestes dias está acontecendo em Brasília: 7 companheiras e companheiros ligados aos Movimentos Populares, sobretudo do campo, estão em GREVE DE FOME. Privam-se voluntariamente de comer, em solidariedade com os milhões de desem-pregados e de Sem Terra que, neste país, estão passando fome. Como diz um deles, Frei Sérgio, “é a fome contra a fome”! O “Pão vivo descido do céu” estará se manifestando através dessa gente? Seremos capazes de entender “o sinal”, de atender ao chamado à solidariedade?…
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PAPA FRANCISCO, aos Movimentos Populares do Mundo:
Hoje quero refletir com vocês sobre a mudança que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança – poderíamos dizer – redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que buscam uma mudança e não apenas vocês: nos diferentes encontros, nas várias viagens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da minoria cada vez mais reduzida que pensa sair beneficiada deste sistema, reina a insatisfação e, sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza individualista que escraviza.
O tempo, irmãos e irmãs, o tempo parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a assanhar-nos contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo queos pobres já há muito denunciam: estão-se produzindo danos talvez irreversíveis no ecossistema. Está-se castigando a terra, os povos e as pessoas de forma quase selvagem. E por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava «o esterco do diabo»: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum.
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)