Taciana Valença 1 de agosto de 2018

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Era um desses fins de semana em que, para descansar da lida diária, viajamos para uma cidadezinha perto.  Íamos ouvindo música, curtindo a estrada (que adoro), quando o telefone tocou. Não conhecia o número e até pensei em não atender, afinal estava saindo para descansar, mas, como não estava dirigindo, resolvi atender.

– Alô?

– Taciana?

– Sim, quem fala?

Foi então que o homem começou a cantar:

– Sempre ouvi dizer, que numa mulher, não se bate nem com uma flor, loura ou morena, não importa a cor, não se bate nem com uma flor…

Fiquei sem entender e perguntei novamente quem era. Foi então que respondeu:  não sabe? 

Bem, minha tolerância para essas coisas de “adivinha quem é” não funciona. Desliguei o fone e disse: era só o que faltava, tem um homem na linha querendo que adivinhe quem está falando e ainda cantando música. 

O telefone tocou novamente.

– Taciana? Agora você vai saber: “você diz que ela é bela, ela é bela sim senhor, porém poderia ser mais bela, se ela tivesse meu amor, meu amor…”

Desliguei! Cara maluco! No carro disseram: deve ser um admiradordando uma cantada. Pensei: literalmente uma cantada! Aliás, duas já!

Mais uma vez o telefone. Desta vez não atendi. Como já estávamos chegando no hotel eu pensei: vou deixar o fone desligado, afinal, vim descansar. E assim o fiz, durante todo o fim de semana deixei desligado.

Quando cheguei no Recife liguei novamente. Havia um recado na caixa postal que dizia:

– Taciana, é Claudionor Germano, gostaria de falar com você. Ligue por favor porque se eu ligar você desliga.

Sabe essas horas em que a ficha vai caindo aos poucos? Foi então que me lembrei das músicas que cantou, da voz, que só ouvia nos clubes e carnavais. Pensei: meu Deus, era Claudionor Germano mesmo!

Liguei.

– Claudionor, é Taciana.

A voz dele parecia de alívio.

– Taciana, quero muito falar com você. Desculpe pelos telefonemas, mas achei que ia saber quem era.

Não fosse esse meu desligamento talvez eu tivesse atinado para as músicas e voz, mas sou desligada.

Marcamos então na Cultura Nordestina, da minha amiga Salete Rêgo Barros. Contei toda a história e ela riu demais.

Enfim nos encontramos. Ele queria agradecer a um texto que fiz em homenagem a ele na minha revista. Na verdade uma pequena crônica falando sobre meu primeiro carnaval no Clube Português.Não precisa dizer o quanto me desculpei pela indelicadeza de desligar o telefone. Caso a edição estivesse sido recente, eu me lembraria, mas foi uma edição mais antiga, por isso nem atinei.

Na ocasião me deu de presente vários desenhos de Abelardo da Hora, uma coletânea que ele disse quase não conseguir. Fiquei muito feliz com a delicadeza e ficamos amigos. Fiz uma outra homenagem a ele na Livraria Jaqueira, com direito a poesia, música e depoimentos de vários amigos. Na ocasião a poesia foi ensaiada com o grupo Som da Terra, tornando-se música no CD dos 40 anos do grupo.

Deixo aqui a letra do frevo, resultado da poesia com alguns ajustes do Som da Terra na melodia, fruto desta inusitada história de encontro. Coisas assim parecem só acontecer comigo.

NA VOZ DE CLAUDIONOR

Eu bem me lembro
Não podia esquecer
Foi meu primeiro baile
E estava a florescer

Ao som do Ela é Bela
Já dizia sim senhor
Quando o frevo começava
Na voz do Cantador

Sempre ouvi dizer
Que numa mulher
Não se bate nem com uma flor
Esses versos tão bonitos
Até hoje ouvimos
Na voz de Claudionor

Passado todo um tempo
De bons momentos
Que ele nos reservou
Deixando marcas de alegria
Dos carnavais
Que eternizou (bis)

Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/
Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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