A marca mais profunda que nasceu e vai permanecendo na minha experiência de ser pai, é o sentido amplo e concreto do que é o amor. Bem sei do lugar comum que é este sentimento nas histórias de paternidade, mas é que não constatei outro lugar que não fosse o do amor para expressar o que sinto pelas vidas dos meus filhos encravadas na minha.

Para descrever este sentimento, vou me deixar conduzir por três dimensões que desenham bem a minha experiência de paternidade – a criação, a doação e ressurreição.

A criação. A primeira notícia de que a Iana existia, minha primeira filha, já se transformou num súbito instante, na experiência inesquecível de gerar uma nova vida em forma de menina, e esta nova vida gerar uma nova história que mudava para sempre a minha existência. A partir de então já não vivia mais só para mim. Com Milena, companheira no amor e na criação, passamos a viver sob um novo e definitivo referencial, criadores recriados pela própria criatura. E assim também foi com as novas vindas das vidas de Marina e Levi.

A doação. Experiência que mantém vivo o amor que leva a optar pela criação. Aqui compreendi de fato o sentido do dar a vida pelo outro, que até então só entendi na vivência de Deus para com seus filhos e dos meus pais para comigo e meus irmãos. Sentimento de amor que quer gastar a vida toda e inteira para fazer meus filhos felizes – e não há felicidade maior do que sentir a felicidade deles. Nunca imaginei que tal sentimento de um amor maior acontecesse comigo, e sem achar que seja algo extraordinário e complexo, simplesmente me percebo assim e celebro como ganho a cada momento de oferta.

Ressurreição. Aqui a realidade do amor que se renova até nos momentos de dificuldades. Nunca vivi com eles um só sentimento negativo que não passasse tão rápido, como uma páscoa imediata, em que a escuridão se torna apenas uma desculpa para a luz existir e prevalecer. Amor ressurreição, que todo dia tem a força da renovação para transformar minhas inseguranças em certeza de manter-me guerreiro para todas as batalhas que desafiem o bem viver de cada um deles. Amor que sempre vence e para sempre, de algum jeito, permanece.

Hoje compreendo bem o sentimento do meu pai em querer deixar-nos o que ele tinha de melhor e que poderia permanecer a qualquer distância, que eram seus valores e o que pôde ser de melhor para nós seus filhos. E assim, distante de mim pela morte, mas tão vivo no que sou de melhor, experimento este amor do meu pai que assim se eternizou – amor ressurreição. É o que desejo da minha história de paternidade, que cada um deles experimente na sua vida o amor que a tudo pode dar sentido e assim sendo garantir a felicidade… é o desejo de que permaneça o amor que se eterniza e nos faz para sempre na existência um do outro. Amor para sempre.

Ivan Rodrigues
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Psicólogo, Educador e representante do Colégio Antares no Programa das Escolas Associadas da UNESCO.
Pai da Iana, Marina e Levi.

Obs: Imagem (Foto) enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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