Nenhum terreiro de Pai de Santo
tampouco bola de cristal,
ou arruda para afastar o mal olhado
ou jogo de búzios e cartomante.
Apenas uma cigana formosa que me venha
e leia a sorte aqui na minha mão.
Não quero esperar sentada,
quero saber do meu amor.
Não quero um amor ioiô, que venha e se vá.
Quero um xodó companheiro,
que me chegue e que me fique.
Conte cigana, não vá embora.
Essa linha mais forte é a do amor?
E essa linha fina e cortada significa
que terei felicidade sem fim nos caminhos da vida?
Esse “eme” nítido, que parece uma marca de ferro,
Significa: és meu?
Ou significa Maria, aquela que não vai com as outras?
Fale cigana, acalme meu coração!
Decifre meus segredos, meus pensamentos.
Antecipe o meu destino.
Esse mistério da minha história.
Decifra essas linhas
para que eu possa mostrar os meus encantos
ao trovador do meu coração.
Vou jogar um quebranto nesse amor
e trazê-lo preso as linhas de minhas mãos,
para do meu jeito fazê-lo feliz,
sem utopia de sonhos.
Só a entrega das mãos
que se juntam em linhas enlaçadas
e no emaranhado delas
outras linhas surjam,
mais fortes e eternas,
sem patuá, nem figa,
só a fé no meu amor.
Depende de você, cigana,
Venha ler a minha mão!
O resto é comigo,
na esperança do amanhã,
no traço das minhas mãos,
na liberdade de escolhas,
nas amarras desvencilhadas,
dos entraves traçados,
nas linhas de minhas mãos.