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Na década de setenta existia uma livraria que era o ponto de encontro dos amantes de livros no Recife: a Livro 7. Acredito que o nome se deva ao fato de ficar na rua 7 de setembro, não sei. Só sei que eu vivia por lá, vivendo o meu caso de amor com os livros. Era um novo conceito em livraria.

Não havia balcão para você pedir um livro ao vendedor. Os livros ficavam nas prateleiras, ao nosso alcance, para pegarmos, folhear, ler a sinopse, sentir seu cheiro… como é bom cheiro de livro novo. E havia bancos, de praça, espalhados pela livraria, onde podíamos sentar e conhecer melhor os livros. E Tarcísio, o dono, estava sempre por lá, pra trocar ideias, indicar títulos, sempre sorrindo, sempre acolhedor.

Naquela época eu acho que as pessoas liam mais. Pelo menos os jovens liam mais. Ir à Livro 7 era um programa muito apreciado. Depois houve uma diversificação e abriu a Disco 7 e também o bar 7. Era, além de um espaço cultural, também um espaço de resistência e liberdade.

Mas em algum momento, fechou tudo e a Livro 7 diminuiu de tamanho, mas continuou ali. E em 1998, fechou de vez, deixando um vazio literário em seus frequentadores. Foram 28 anos de encontros e reencontros, de namoros, amizades e leitura, muita leitura.

As coisas boas, geralmente, são frutos da realização de sonhos. E, exatamente, do sonho de um casal apaixonado por livros, surgiu a Quinta do Livro, uma livraria totalmente diferente de tudo que já havíamos experimentado. Construída em um terreno com muitas mangueiras e outras árvores, além do espaço principal onde os livros eram vendidos, havia um espaço dedicado totalmente à literatura infantil e, do lado de fora, no quintal, funcionava um café. Ali se podia tomar um café embaixo das árvores, enquanto se conhecia um livro.

O local onde a Quinta do Livro funcionava fazia parte da minha infância. Eu morava do outro lado do muro, onde ficava o que todos chamavam de sítio. As minhas filhas amavam a Quinta do Livro e saímos de Boa Viagem para a rua José de Alencar, na Boa vista, pelo menos uma vez por semana. Mas esse sonho durou bem menos do que o de Tarcísio e um dia a Quinta do Livro fechou suas portas, nos deixando outra vez órfãos de um espaço de encontro com livros.

Em 2005 a esperança voltou. Foi inaugurada, em Recife, a Livraria Cultura, anexa ao Paço da Alfândega. Claro que longe de ser uma livro 7 ou Quinta do livro, em se tratando de acolhimento e interatividade de seus frequentadores e proprietários, surgiu como não apenas uma livraria, mas um espaço para os encontros ou namoros com os livros.

Porque comprar um livro não é simplesmente entrar em uma livraria, pedir no balcão, pagar e ir embora. Há que ter o primeiro encontro, o flerte, o contato físico, pele na capa, dedos nas páginas, sentindo o seu cheiro e desvendando os seus segredos. Quem sabe até se envolver em seus mistérios e viajar por mares nunca antes navegados.

Na Livraria Cultura do Paço podia haver esse “encontro” entre leitor e livro. Havia sempre uma cadeira esperando por a gente, um funcionário ou funcionária para responder às nossas perguntas e aquele clima de acolhimento para quem realmente queria se encontrar com livros.

Mas na sexta-feira, 05 de julho, fomos, mais uma vez, pegos de surpresa, pela notícia do fechamento da livraria Cultura do Paço. Uma enorme tristeza invadiu as redes sociais, com pessoas lamentando o fato, lembrando da Livro 7 e percebendo que voltamos a ficar órfãos de espaço literário.

Não venham me dizer que existem outras livrarias no Recife que podem fazer esse papel. Sei que existem algumas em outros bairros. Dia desses conheci uma que mais parece uma café que livraria. E as livrarias dos shoppings? Sempre formigando, sem nenhum lugar disponível para sentar e namorar um livro, tocando músicas horríveis e muito, muito barulho.

Lembrei de um filme, coincidentemente, do ano em que a Livro 7 fechou: Você tem Mensagem. Nele duas pessoas se apaixonam – Tom Hanks e Meg Rayan – e descobrem que estão em lados literários opostos. Ele dono de uma das maiores redes de livraria de Manhattan. Ela dona de uma pequena livraria de livros infantis que estava para ser engolida pela rede dele. Não lembro do final do filme, mas, como comédia romântica americana, com certeza terminou tudo bem. Ao contrário da Livraria Cultura do Paço. Que fechou suas portas e levou com ela os nossos bons encontros de livros.

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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