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Bowby, psicanalista britânico, explicou que a vivência de uma relação calorosa, íntima e contínua do bebê com a mãe (seja ela substituta ou não) mostra-se essencial à saúde mental do bebê. (http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2004000300006).

O Bebê que recebeu o cuidado na medida certa (nem muito exagerado, nem muito faltoso) poderá ter maiores chances de ser um adulto com um grau menor de carência e com maior capacidade de amar.

Por outro lado, quando falamos em abandono infantil seja ele físico ou emocional, logo vem em nossa cabeça um sentimento de fracasso junto com o pensamento de que alguma coisa na humanidade e no mundo deu muito errado. Essa criança que foi privada de cuidado seja ele parcial ou quase total, quando adulta, parafraseando Cazuza, poderá vir a ser um maior abandonado.

Esse adulto tenderá a uma profunda dificuldade em manter vínculos afetivos como também, indo para o lado oposto, de se desvincular afetivamente de alguém mesmo que esse relacionamento seja extremamente tóxico para ela e você não entende porque se submete a tantas humilhações.

Por isso que você observa no cotidiano um grupo de pessoas que se submetem e suportam graves humilhações de verdadeiros(as) carrascos(as) (que os aprisionam emocionalmente), ou, no segundo caso, indivíduos que desfazem repentinamente relações de amizade, familiar ou amorosa no instante em que tudo andava caminhando bem e harmoniosamente – nesse caso, essa prática aparentemente “estranha” pode ser uma defesa inconsciente que o “abandonador” encontrou para não se frustrar ou para não ser abandonado primeiro. Para não sentir o trauma de ser rejeitado de novo, ele abandona quando o vínculo começa a se estreitar.

É muito difícil viver e conviver com pessoas com essas características, pois muitas das vezes vemos potencial e qualidade nas mesmas se essas conseguissem se entregar e confiar um pouco mais na relação e aprender a lidar minimamente com a vulnerabilidade inerente a vida.

O sentimento de vulnerabilidade nunca foi uma questão fácil para nós seres humanos. Quem já ficou doente ou dentro de um avião ou ainda, sofreu um assalto a mão armada sabe onde quero chegar. Nos sentimos impotentes e sem autonomia da própria vida.

Para a pessoa que tenha passado por algum tipo de abandono infantil esta pode desenvolver um medo exagerado de amar demais, de sofrer demais ou pior, ser abandonada por essa pessoa que está começando a nutrir um afeto, repetindo assim, a sua triste história novamente.

Não levanto aqui a bandeira do vitimismo e nem defendo nenhum tipo de comportamento imutável, pois todos conhecemos indivíduos que tinham “tudo para não dar certo” e suas histórias mostraram o oposto. Mas também nunca podemos deixar de analisar a história de vida das pessoas para entender o porquê são como são. Acredito que dessa forma podemos ser mais tolerantes e menos implacáveis para com o outro e com a gente mesmo.

Nossa história é sempre muito importante, afinal, quando morremos o que sobra da gente nesse mundo são as lembranças que deixamos no coração de quem ficou e as histórias que contarão da nossa trajetória. Pelo menos é o que eu espero.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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