Numa fazenda tinha uma multidão de gansos.

Quando era domingo, o seu maioral chamava o bando e subia numa pedra, como se fosse um púlpito. Os gansos chegavam, esticavam o pescoço com zoada, até que baixavam a cabeça diante do chefe que pedia respeito e silencio. E assim fazia o tradicional sermão dominical que os gansos não cansavam de ouvir:

Louvado seja o Criador que dotou a raça dos gansos com tantas qualidades. Deu-lhes um pescoço cumprido para levantar a cabeça com orgulho. Deu-lhes patas largas para poderem pisar e nadar com firmeza. Por fim os dotou com asas para se levantarem nas alturas”. Assim ele ia pregando, contando as vantagens do tempo velho, quando os gansos ainda sabiam voar, sendo um povo livre que não passava necessidade. Por fim dizia AMEM. Todos os gansos apertavam as asas junto ao corpo, só que ninguém se lembrava de experimentar as asas.

Acontece que antigamente os gansos eram selvagens e voavam. Iam atrás de comida e não havia distância que os empatasse. Mais tarde foram domesticados e tratados para engordar. A comida era o milho do patrão, de modo que ninguém precisava mais ir atrás. As asas já não podiam com o peso do corpo, e os gansos perderam a capacidade de voar. Só que o pregador gostava de lembrar o tempo saudoso.
(inspirado em uma meditação de Sören Kierkegaard)

O Pentecostes foi o tempo em que os cristãos ainda sabiam voar, movidos pela palavra: LEMBRAI-VOS DAS COISAS DO ALTO. No meio do Império Romano levantavam a cabeça sem aceitar a sujeição. Não aceitavam nenhum SENHOR a não ser o Cristo. Quando a perseguição acabou, adaptaram-se ao mundo. Eram tratados com honras e se acostumaram à vida boa. Colados à terra, já não pensavam nas coisas do alto. Perderam o costume de voar, mas ficam lembrando o tempo glorioso em que sabiam levantar as asas.

Esta história nos faz pensar:

O que é melhor: Comer do coxo e ir atrás de comida?
Tem Comunidades em nosso meio que ainda levantam as asas?

O que é que os gansos deveriam fazer para poderem voltar à sua liberdade?
Perder a gordura dos sedentários, renunciar ao coxo do patrão e treinar as asas.
Tudo isto exige muita coragem. (Lago da Pedra, dia 30 de julho de 1988)

Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.

Imagens enviadas pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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