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Há dias flagro na hora do lanche na empresa
do meu serviço repetitivo e constante,
um passo preto alegre, mesmo perneta.
Ele aparece diariamente na mureta
do terraço espaçoso e panorâmico,
naquela hora para o patrão obsoleta.
Quando o vejo, penso na sua historieta
como ele perdeu seu pé esquerdo,
qual foi a sua infeliz e triste retreta
Porque, ao vê-lo, lembro que sou um aseta
que um dia voou e perdeu suas asas
numa sádica, inumana e perversa treta.
A dele, deduzo, foi vítima de uma roseta
utilizada pelo serviço de proteção animal,
para protegê-lo – que ironia – no planeta.
Comigo fizeram, os donos cruéis dessa sarjeta
o mesmo mal, a mesma maldição,
cortaram minhas asas pra calar minha voz de esteta.
Mas sigo, coto, feito tu, ave feliz e preta,
cantando entre esses homens sem rosto
a minha solidária, gentil e desperta opereta.
Porque sei, passo preto altivo e porreta
como tu, que o negrume desse mundo
é haver tanta gente vil, infeliz e careta.
Obs: Imagem enviada pelo autor.