Padre Beto 15 de julho de 2018

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Dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, morto em 1999 é um exemplo de vida autêntica. Ele foi personagem importante da ala progressista da Igreja Católica na década de 1950, criando a Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam); mais tarde, enfrentou e desafiou o poder em plena ditadura militar. O filme de Érika Bauer, “Dom Hélder Câmara – O Santo Rebelde”, apresenta um homem que conseguiu viver, com transparência a mensagem do Cristo em nosso mundo contemporâneo. 

Em Marcos 9, Jesus se transfigura diante de três discípulos. Apesar dos seguidores de Jesus não compreenderem o fenômeno, a transfiguração de Jesus revela o seu próprio futuro e estabelece uma nova exigência para o presente. O transfigurar-se de Jesus antecipa o seu futuro, ou seja, a ressurreição. A ressurreição que acontece logo após a sua morte é a transfiguração total de seu ser, a libertação de todos os seus limites humanos e históricos, a manifestação de seu ser em sua essência pura. Este futuro de Jesus é o nosso próprio futuro. Jesus como Cristo não esteve entre nós por acaso, mas para nos revelar o nosso telos, o nosso fim, a ressurreição. Nós possuímos uma existência finita que, ao terminar com a chamada morte, nos permite uma libertação de todos os limites existenciais e nos faz atingir um ser pleno e sem determinação de tempo e espaço. Não é somente o nosso futuro que está revelado na transfiguração de Jesus, mas nela encontramos também uma exigência para o presente: a nossa constante trans-figuração. Transfigurar-se significa a busca diária de viver nossa essência, ou seja, a nossa transparência. O que há de comum entre Abraão, Deus (Gn 22, 1-2.9-13.15-18) e Jesus (Mc 9, 2-10) é a transparência em seus atos. A transparência em nossas ações é um dos mais básicos critérios cristãos. Infelizmente, vivemos em uma sociedade da não-transparência. Nossa sociedade nos incentiva a criar uma aparência que, na verdade, é o oposto da transparência. A crítica do filósofo Marcuse continua cada vez mais atual. Marcuse denuncia a criação do chamado homem unidimensional: um indivíduo que consegue ver apenas a aparência das coisas, nunca indo até a sua essência. O homem unidimensional é conformista, consumista e acrítico. Ele se acha feliz porque a mídia lhe diz que ele é feliz e, quando se sente triste, vai ao shopping fazer compras. Nós procuramos manter máscaras em nossas relações para atingirmos determinados objetivos, usamos a aparência como estratégia para sermos aceitos e sobrevivermos em nossa sociedade. O paradoxo da aparência é que ela cria a obscuridade nas relações. A partir do momento que vivemos de aparências, escondemos aspectos que não desejamos revelar e não vivemos na verdade. Viver com Deus é viver na verdade. A partir do momento que vivemos na transparência, mesmo cometendo erros e sendo criticados, alcançamos algo extremamente valioso: o respeito. O respeito só é alcançado através da autenticidade. Esta só existe se jogamos com transparência e honestidade. Ser cristão mantendo aparências que escondem a nossa essência é uma grande contradição e um sinal que, na verdade, o ser cristão também é mais uma aparência entre outras. Para Marcuse, as mudanças só ocorrerão se houver a liberação de uma nova dimensão humana. Um princípio básico deve permear essa nova revolução: a liberdade. A verdadeira liberdade é a vida na autenticidade. Esta vida nos faz dormir com tranquilidade e nos oferece a respeitabilidade de filhos de Deus. Jesus, certa vez, se dirigindo aos fariseus, disse: “as prostitutas os precederão no Reino dos Céus”. Com certeza, Jesus não estava defendendo a prostituição ou afirmando que as prostitutas estavam se tornando suas seguidoras. Na verdade, Jesus queria dizer que uma prostituta é muito mais transparente que muitas pessoas que mantém uma aparência de religiosos, mas que vivem com artimanhas e estratégias através da falsidade e da hipocrisia. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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