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Meus queridos amigos

É de conhecimento o elogio da caridade feito por São Paulo e que se encontra no cap. 13 da 1ª Epístola aos Coríntios: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse caridade seria como um bronze que soa e um címbalo que tine. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que eu tivesse toda a fé a ponto de transportar os montes, se não tivesse caridade, eu nada seria. Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que eu entregasse meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso de nada adiantaria. A caridade é paciente, é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho… Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta…”

Claro que este texto continuará atravessando os séculos — foi inspirado pelo Espírito Santo. Escutem agora uma aplicação do elogio da caridade aos tempos de hoje: “Se eu aprender inglês, francês, espanhol, alemão e dezenas de outros idiomas, mas não souber me comunicar como pessoa e viver distante dos problemas do mundo e não emprestar minha voz aos fracos e injustiçados, de nada valem as minhas palavras”.

Se eu morar numa cidade grande, mas desconhecer os problemas das pessoas que nela vivem, e fugir para as férias no Sul e até para a América e a Europa, e nada fizer pela promoção do homem, não sou cristão… Se eu tiver a melhor casa de minha rua, e o melhor carro e não souber que muita gente jamais terá um lar, e vai sempre andar a pé, não sei de nada… 316 Se eu ensinar no melhor colégio da cidade, e me esquecer das famílias que dormem debaixo de viadutos, e esquecer famílias que vivem nas favelas, sem escolas e sem condições mínimas de vida humana, não sou gente…

Se eu possuir a roupa mais avançada do momento, e o sapato da onda, mas não me lembrar de que sou responsável por aqueles que moram na minha cidade, e andam de pé no chão e se cobrem de sujo e de molambo, serei apenas uma sombra colorida… Se eu passar o fim de semana em festas, boates, farras e programas, sem ver a fome e o desemprego, o analfabetismo, a doença e o desespero do povo que anda e sofre sem libertação, não sirvo para nada. O cristão é lúcido. O cristão não foge, nem desespera. O cristão insiste na luta pela verdade. O cristão não tolera a injustiça. O cristão sabe que a única coisa que vai sobrar de tudo isto é a caridade, é o amor! Sábado, 13.2.1982

Obs: crônica escrita por Dom Helder Camara, especialmente para o seu programa UM OLHAR SOBRE A CIDADE.
.Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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