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Aproveito o belo fim de tarde de um quase verão e me recolho num dos meus Cafés preferidos no Blv. Saint Germain – Brasserie Lipp. Procuro a pequena mesa escondida perto de uma entrada estratégica, de onde eu posso ver quem chega e que por sorte, ninguém quer. Atravesso e me escondo. Sorridente, o jovem Amhir me cumprimenta e trás logo o wisky duplo.
Diferente dos outros clientes, eu sou um velho magro, com óculos de aros escuros e um cigarro morto nos lábios. Espalho no mármore enegrecido pelo tempo, o jornal e a minha máquina de trabalho. Perdi a conta dos anos que perambulei por aqui atrás de furos jornalísticos, com artistas famosos, intelectuais e políticos. A época era propicia aos iniciantes na arte de tudo. Finalmente se trata de Paris! Hoje realmente os tempos são outros. Com o advento da modernização, tudo acontece com a rapidez do vento. As maquininhas transmitem as fotos na hora e só os fatos temos que farejar.
Quase não existe surpresa! Não lamento. Aplaudo e acompanho o modernismo. Mas o que me faz hoje sonhar, é um velho caso de amor que vi nascer neste Café há mais ou menos duas décadas. Estávamos no gelado alvorecer do Século XXI. A cidade atravessava um dos mais tempestuosos invernos dos últimos anos. Para reacender a memória, fecho o olhos e revejo o filme em preto e branco.
Quando o casal entrou, praticamente, todos os habituês da casa, se viraram para olhar. Ele, um garboso bretão de meia idade, alto, escassos cabelos e penetrantes olhos dourados. A companheira, uma estrangeira com alguns anos menos, um tipo elegante, sem beleza exterior que chamasse à atenção, mas coberta de glamour, dos pequenos e elegantes pés ate ao clássico coque preso no alto da cabeça. Ao passar, o perfume, cara e coração da cidade luz, exalava no ar. O casal ficou sob a mira da minha curiosidade de escritor desde então. E era sempre nesse período que eu os revia. O encontro acontecia praticamente todos os anos. Pelas minhas pesquisas, eles mantinham um romance clandestino e se ofereciam uma lua de mel entre a primavera e o verão.
Comecei a viver aquele amor proibido, com várias das minhas companheiras. Mas aquele encontro na “Lipp” era meu. Durante esses anos todos de observação, sentia que o tempo só aumentava a paixão do casal. Eles foram amadurecendo gradativamente qual fruto da estação. O que permanecia de belo era o brilho dos seus olhos e a serenidade dos semblantes, cujas rugas o tempo não mostrava. Seria o efeito do amor vivenciado nessa apaixonante cidade? Eu os invejava sim.
Durante esse tempo, casei duas vezes e tive mil casos que para mim não passaram de fogo-fátuo de ilusão. Por fim. Eu estava perdidamente apaixonado por eles. Hoje eu iria finalmente me aproximar. Estava decidido. Teria o pretexto de convidá-los para o lançamento do meu novo livro, livro esse que era a história da vida deles. E foi assim que pude conhecê-los. Ao me aproximar, tremi com as penetrantes pupilas negras da velha senhora, que me fitavam com uma ternura infinita.
Estava diante de um venerável e lindo casal. Ele, sorridente apertou as minhas mãos ásperas e magras com as suas fortes e mornas. Várias foram as taças de champanhe elevadas para brindar à nova e velha amizade. Acontece que não só de um lado, mas do outro também, a nossa observação era mútua! Foi então que eles me contaram do casamento, na pequena cidade de “Aguilles Mortes”, escondida entre muros medievais. Um deles tinha um compromisso moral e com a partida da companheira, seria livre para viver plenamente a felicidade! E, mesmo sem saber de nada, eu tinha escrito uma historia de amor, vivida de momentos que se eternizaram, mesmo tendo que esperar o tempo chegar, para não magoar ou ferir ninguém. Maio/018
Obs: Imagem enviada pela autora.