Djanira Silva 1 de junho de 2018

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Era uma casa, com muitas portas, muitas janelas, muitos fantasmas e uma sombra, ainda viva, que não deixava em paz o homem e a mulher. Na noite em que a lua doce deveria entrar no quarto, a sombra ordenou: deixe a porta aberta não me separe do meu filho. Sem avisar, na hora mais imprópria, entrou nos aposentos quando a lua estava quase cheia. Nunca mais puderam se amar em paz nem andar pela casa sem tropeçar nas sombras da outra, da que andava pra frente e pra trás querendo desmanchar o que estava feito.

Quando a vida se multiplicou tomou conta do choro, do riso e do berço, ela que criara o pai e o filho queria também criar o espírito santo. Difícil adivinhar-lhe os caminhos fechar portas e janelas. À noite não dormia. Alma penada repouso certo.

No fundo do quintal o menino cresceu. Sozinho, aprendeu vida e morte. Matou galinhas, passarinhos e lagartixas. A outra, lá dentro matava tempo e morria poucos sem ao menos dar o último suspiro.

Um dia se foi e nem deixou saudade.

O menino? Cresceu assim mesmo.

Obs: Texto retirado do livro da autora – Doido é quem tem juízo

A autora é poetisa, escritora contista, cronista, ensaísta brasileira.

Faz parte da Academia de Artes e Letras de Pernambuco, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Recifense de Letras, Academia de Artes, Letras e Ciências de Olinda, Academia Pesqueirense de Letras e Artes , União Brasileira de Escritores – UBE – Seção Pernambuco
Autora dos livros: Em ponto morto (1980); A magia da serra (1996); Maldição do serviço doméstico e outras maldições (1998); A grande saga audaliana (1998); Olho do girassol (1999); Reescrevendo contos de fadas (2001); Memórias do vento (2003); Pecados de areia (2005); Deixe de ser besta (2006); A morte cega (2009). Doido é quem tem Juízo (2012); Saudade presa (2014); O Sorriso da Borboleta (2018)
Recebeu vários prêmios, entre os quais:

Prêmio Gervasio Fioravanti, da Academia Pernambucana de Letras, 1979
Prêmio Leda Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, 1981
Menção honrosa da Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1990
Prêmio Antônio de Brito Alves da Academia Pernambucana de Letras, 1998 e 1999
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2000
Prêmio Vânia Souto de Carvalho da Academia Pernambucana de Letras, 2010
Prêmio Edmir Domingues da Academia Pernambucana de Letras, 2014

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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