Malu Nogueira 15 de junho de 2018

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Conta-se que, em meados do século XIX, num lugar distante, onde o vento faz a curva, floresceu um povoado. Seus primeiros habitantes oriundos dos sítios e fazendas eram amigos e parentes. Todos se conheciam. A vida era puxada, não tinha preguiça ou herança que fizesse alguém deixar de fazer seu pão, arar a terra, colher o alimento e compartilhar com cada cidadão.

Um dia, final de semana, último sábado do mês, quando todos iam à vila fazer suas feiras, ir à missa, encontrar parentes, batizar seus filhos, saber as novidades, um jovem casal de noivos foi à procura do padre para oficializar o casamento de ambos.

Esse casal tinha ânsia de realizar este sonho na presença de um sacerdote e, assim, foi feito. Fizeram seu juramento de amor, fidelidade e que nem a morte os separaria, por fim, receberam a bênção nupcial!

Felizes, com os corações em festa, empreenderam o regresso ao sítio de origem, onde eram esperados para comemorar, com os familiares e amigos, o casamento.

Ocorreu que chuvas caídas noutras regiões fizeram transbordar o rio Pajeú, desde a sua nascente até seu passar pela vila. A água barrenta constituiu empecilho para o retorno do casal.

Porém, no fogo da paixão, com o ímpeto da juventude e antevendo a festa organizada no terreiro do sítio, resolveram atravessar a nado, o rio.

Parecia tão fácil, tão perto a outra margem, que os dois, de comum acordo, mergulharam nas águas frias e traiçoeiras, nadando para os braços da morte.

O tempo se fechou. As águas encobriram aquele casal, sem nomes, sem documentos e aqueles que os esperavam do outro lado do rio não mais os viram. Os outros que estavam com eles, do lado de cá, escancaravam seus olhos a procurar, nas águas revoltas, aquele casal, que se tocava pela primeira vez dentro do rio que lhe arrebatara a jornada.

Dias depois, quando se esgotaram todas as expectativas de achá-los, narra a lenda, eis que foram vistos, abraçados, enganchados na Ingazeira – árvore que florescia às margens do rio e que serviu de leito nupcial para aquele casal impetuoso, que jamais pensou que a vila onde se casaram seria conhecida como a Passagem dos Afogados posteriormente denominada a cidade de Afogados da Ingazeira.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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