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O mês de junho é, sobretudo para os nordestinos, um mês muito especial. É o mês dos chamados festejos juninos, do milho assado na fogueira, dos fogos, da pamonha, da canjica, do bolo Pé de Moleque, das quadrilhas e de forró, muito forró.

E, na tradição junina, não podemos esquecer o santo que inicia as comemorações, o “casamenteiro” Santo Antônio. O padroeiro do amor.

A véspera do dia dedicado a Santo Antônio, 12 de junho, é comemorado, pelo menos no Brasil, o Dia dos Namorados. Claro que é mais um dia criado para o consumo do que propriamente para o amor. As lojas vendem presentes e os restaurantes ficam lotados de casais comemorando o amor.

Nos Estados Unidos o similar Valentine’s Days, comemorado do dia 14 de fevereiro, apesar de também ser um dia dedicado ao romance, se estende um pouco para celebrar a amizade.

No mundo de hoje onde o amor está em falta, poderíamos criar um dia para, simplesmente, celebrar o amor, não importa se romântico ou fraterno. O amor em toda a sua plenitude, que une as pessoas, que alimenta a tolerância, a solidariedade, a cumplicidade, o carinho.

O mundo vive momentos difíceis. E o Brasil acompanha a tendência mundial. Como sempre fez. Como na época da ditadura onde uma frase era muito difundida :”o que é bom para os Estados Unidos é bom para Brasil”.

NÃO. O que é bom para os EUA não é bom para o Brasil. Bom para o Brasil seria o que é bom para os países da Escandinávia, por exemplo. Bom para o Brasil não é o capitalismo selvagem, que aumenta a cada dia a injustiça social e, em consequência, piora a qualidade de vida da população como um todo.

Se não vejamos: direitos trabalhistas diminuídos e desemprego aumentando gera o que? Mais pobreza, mais miséria, mas fome, mais gente morando nas ruas e mais e mais violência.

Daí eu pergunto: quando as pessoas com melhor poder aquisitivo visitam países como o Canadá, a Noruega, a Suécia ou a Dinamarca e andam pelas ruas com seus iphones 8, seus ipads e laptops de última geração e voltam para seus hotéis 4 ou 5 estrelas com eles, intactos, com certeza gostam disso, não é mesmo?

Quando andam nas ruas das cidades desses países e não veem mendigos ou favelas, acham isso maravilhoso. Pois se acham tão maravilhoso por que não deixam que no Brasil se tente algo assim? Será que não veem que a violência é fruto da miséria, da falta de oportunidade, da barriga e do bolsos vazios?

Nesses últimos anos o amor tirou férias do Brasil e foi passear por aí. Em seu lugar ficou a intolerância, o ódio, a incompreensão de entender que se a filha do porteiro do seu prédio foi pra universidade, isso é bom. Ela não tomou o lugar do filho branco do patrões de seu pai. Ela conquistou um lugar ao qual tinha direito.

Quando a empregada doméstica consegue comprar um computador para os filhos, não significa que ela está ganhando demais e a culpa é do governo do PT que aprovou a PEC das domésticas. Isso significa que ela ganha um salário que, embora ainda não seja justo, é melhor do que antes e lhe permite uma vida mais digna.

Quando o seu motorista conseguiu comprar um carro para fazer Uber, você não devia ficar irritado por perder o motorista mas, ao contrário, ficar feliz por ele poder ter seu próprio negócio e melhorar de vida.

Por que a pequena parcela da população brasileira, privilegiada financeiramente, não admite que as outras pessoas têm direito a ter uma vida digna? Por que os mais pobres não podem comer três refeições por dia, ter uma casa para morar e os filhos estudarem?

O Brasil que estava no caminho de ser uma potência econômica hoje virou piada mundial. E não apenas piada, mas também o alvo de críticas do mundo todo, por estar se tornando cada vez mais um país onde a injustiça, em toda a sua amplitude, só vai crescer.

Ao voltar ao mapa da fome o país mostrou ao mundo que seu governo não está nem aí para a população, para crescimento social e qualidade de vida para todos.

Quando vemos nas redes sociais a disseminação do ódio, a intolerância, o preconceito racial e de classe, a homofobia que explodiu e a misoginia, percebemos o quanto o Brasil retrocedeu humanamente falando.

Não vou aqui ser melosa e dizer que é preciso mais amor. Porque isso todo mundo já sabe.

O Brasil precisa recuperar a dignidade jogada fora nos últimos anos. Deixar o modelo falido dos Estados Unidos de Lado e focar no modelo do vizinho Canadá.

Enquanto levar vantagem for visto como algo positivo, a corrupção for encarada como natural e o preconceito, a arrogância e a intolerância forem passados de pais para filhos com orgulho, vamos continuar a ser uma enorme republiqueta de terceiro mundo, sofrendo golpes e afundando cada vez vais na lama da ambição e da sede do poder, com um 1% vivendo muito bem às custas de 99% que dá duro e que vê cada vez mais distante a conquista de uma vida ao menos decente.

O amor não está no ar? Cabe a cada um de nós ir atrás dele e trazê-lo de volta. Não adianta ficar indignado com o vigilante que não permitiu que um rapaz comprasse comida para uma criança carente em um shopping. Temos que denunciar essas coisas e combatê-las. Assim como temos que denunciar cada injustiça que encontrarmos em nosso caminho, cada desmando, cada arbitrariedade.

Temos que passar para nossos filhos e filhas, netos e netas, que corrupção é uma prática comum mais totalmente errada, que levar vantagem é coisa de preguiçoso que não quer se esforçar, que preconceito, de qualquer espécie, é ignorância e que a culpa da violência é da estrutura cruel que rouba o futuro das pessoas.

Quer andar na rua sem ter seu iphone roubado? Eu também quero andar na rua sem ter meu celular roubado, mesmo não sendo iphone. Então faça a sua parte. Ódio, preconceito, arrogância, prepotência e intolerância não ajudam a diminuir a violência. #FICAADICA.

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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