Por um longo período de tempo durante o século XX a humanidade conviveu com medos e esperanças relacionadas com possibilidades de intervenções genéticas no ser humano, somente na última década é que surgiram técnicas poderosas que abriram a possibilidade de modificar o genoma do ser humano no estágio embrionário.

Isaac Asimov, na sua obra intitulada “o começo do fim”, escrita em 1978, já previa de certa forma uma nova fronteira para a medicina genética quando afirma: “O avanço da engenharia genética torna praticamente possível que começaremos a desenhar nosso próprio progresso evolutivo.” Isto que foi dito há quase 40 anos é de uma grande atualidade hoje. Não será mais o acaso da natureza que decidirá a respeito da vida do ser humano. Antigamente para sabermos do nosso futuro o ser humano consultava os astros, doravante terá que consultar os genes. O ser humano começa a ter em suas mãos ferramentas e conhecimentos no âmbito da biologia molecular, genética e na aplicação da engenharia genética, que prometem revolucionar completamente a sua vida, bem como a vida dos seres vivos na face da terra. Vivemos num momento crucial da história humana em que alguns cientistas chamam de Antropoceno, ou seja, a era em que o ser humano assume a responsabilidade por alterações genéticas em si próprio, bem como no planeta. Todo este novo cenário se abre a partir de uma das mais importantes descobertas da humanidade no século XX, que foi a descoberta da dupla hélice do DNA em 1953, por James Watson e Francis Crick.

Após estas considerações introdutórias vejamos a grande novidade genética deste momento histórico. Trata-se do Crispr-Cas9 (lê-se crisper-cas-nove), uma nova técnica revolucionaria de edição do DNA que promete mudar profundamente o nosso mundo da vida. Estamos diante de uma sigla da expressão em língua inglesa “clustered regularly interspaced short palindromic repeats”. Trata-se de um o acrônimo, cuja tradução em português –de difícil compreensão para o público em geral- é “repetições palindromicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas”, que funciona com uma proteína associada, a Cas. Através desta técnica do Crispr atua-se diretamente no gene defeituoso, como um míssil teleguiado, atingindo um grande número de células-alvo. Nesta técnica, a enzima Cas9, uma nucleasse, corta as duas fitas da dupla hélice do DNA, abrindo o espaço pra a inserção de um novo trecho. Agora é também possível uma edição “sem corte” do DNA, muito útil para alterar uma única “letra” do genoma.

Trata-se de uma sequência de DNA bacteriano muito particular, com trechos curtos que se repetem a intervalos regulares e que podem ser lidos da mesma maneira, mesmo que o sentido de leitura seja invertido (ou seja como palíndromos, tais como arara, osso ou rotor), mas na linguagem do DNA. Esta nova tecnologia de edição de genes CRISPR-Cas9 é descrita como uma “tesoura molecular” por sua capacidade de tornar feitos antes improváveis na engenharia genética em simples exercícios de cortar e colar.

Pela primeira vez na história humana se coloca ao alcance do ser humano a possibilidade de reescrever o código genético humano: nas células doentes do corpo, sim, mas também nos óvulos e espermatozoides que determinam o futuro de nossos filhos, dos filhos de nossos filhos e de toda a linhagem que emergirá deles. Traduzindo numa linguagem mais simples, trata-se de um passaporte da humanidade existir no futuro. A finalidade do uso dessa técnica seria de curar doenças genéticas na linha germinativa, quer dizer, não do próprio doente, e sim em seus filhos e em todos os de sua descendência futura. O método foi testado com sucesso em ratos e macacos, e por isso os cientistas acreditam que seria a hora de se estudar se tem utilidade médica em humanos. Por enquanto, esta técnica ainda é ilegal em todos os países que regulamentaram a embriologia humana, e que tem a capacidade técnica necessária.

Obs: Texto retirado http://www.a12.com/redacaoa12/pe-leo-pessini

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]