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O Dia Internacional do Trabalho, ou melhor, do Trabalhador e da Trabalhadora, ocorre em pleno Tempo Pascal, uma providencial e sugestiva coincidência para nós de tradição cristã. Neste Tempo, então, em que costumamos celebrar a “passagem” libertadora do Deus da Vida em nossas vidas, em nosso mundo, é importante resgatar o 1º de Maio, como já o fizera um articulista de periódico desta cidade, no início do século passado, como “PÁSCOA DO OPERÁRIO”!

A “passagem” do Deus libertador em meio aos “hebreus”, isto é, aos oprimidos de hoje, acontece, antes de tudo, quando o trabalhador, a trabalhadora, toma consciência da sua dignidade, do seu valor. Não por acaso, na Vigília de Páscoa, ao recordarmos as maravilhas ocorridas ao longo da História da Salvação, a primeira a ser proclamada é justamente a Criação, que culmina no divino decreto: “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança!” A seguir, Homem e Mulher, destinados a crescerem e multiplicarem-se, recebem do Criador a tarefa imane de se assenhorearam da terra, isto é, de cultivarem e preservarem este maravilhoso jardim (Gênesis 1,26-28; cf. 2,15). O Cristo Ressuscitado, que fora Jesus de Nazaré, o carpinteiro, filho de José, é precisamente o paradigma de uma Humanidade que se reapropria do sentido maior da sua existência, da dignidade do valor do Trabalho como serviço, como gesto de amor, e da dignidade do Trabalhador, da Trabalhadora, como servidores do seu povo, gente que gasta suas energias, sua vida, pelo Bem Comum, cidadãos, cidadãs, com todos os deveres e direitos, mas sobretudo com o prazer de servir à felicidade de todos!

Se, como já disse um poeta, “a esperança é o sonho do homem acordado”, o 1º de Maio, num segundo momento, é o dia preciso de reacender em todo Trabalhador, em toda Trabalhadora, este sonho, esta esperança maior de chegar um dia à Terra da Promissão, onde corre o leite da Justiça e o mel da Paz. (Êxodo 3,78).

Finalmente, a consciência que se faz esperança, precisa desabrochar em compromisso, engajamento e luta por fazer o sonho acontecer. Relançar no seio da Classe Operária a dinâmica do Êxodo é retomar no início de um novo século, de um novo milênio, a experiência de Moisés e do seu povo, ao se juntarem, se organizarem e conseguirem se arrancar do Egito da escravidão em busca da Canaã dos seus sonhos. Animava-os a certeza maior de que Deus estava com eles, aliás, esse era precisamente o seu Nome: Emanuel, isto é, Deus-conosco! (Êxodo 3,13-15; cf. Isaías 7,14; Apocalipse 21,3).

E não foi por nada que Jesus na Última Ceia nos deixou a partilha do Pão e do Vinho como sacramento, isto é, lembrança-presente do seu amor, da sua vidaentregue por nós. Todo pão, todo vinho, toda comida, toda bebida já carregam consigo um mundo de significados, que provêm, precisamente, do trabalho de tantas mãos que se dedicaram a produzi-los, e culminam nos objetivos maiores a que se destinam, a saber, sustentar-nos na existência e proporcionar-nos a alegria da partilha e da festa. Nada mais parecido com o Céu (Lucas 22,1-20; cf. Mateus 22,1-10).

Como Trabalhadores e Cristãos só nos resta cair em campo, arregaçar as mangas e utilizar as ferramentas que estiverem a nosso alcance, ou as que pudermos inventar ainda, para fazer valer nossa dignidade e nossos direitos, e nossa esperança se concretizar. Será o Grupo de Mulheres, o Movimento Negro, a Associação de Moradores, a Cooperativa de Serviços Gerais?… Será o Sindicato, a Central Sindical, o Ministério Público, a Justiça do Trabalho?… Será núcleo do Partido político, a mobilização, o protesto, o Grito dos Excluídos?… Será a greve, a ocupação das terras ociosas, das usinas ou indústrias falidas?… Só não será o imobilismo ou a acomodação que farão a Páscoa dos Trabalhadores acontecer. (Abril-Maio 2001)

Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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