Tatiana Nicz 15 de maio de 2018

No curso de Psicologia, há uma professora que todo mundo adora, que as aulas são realmente boas, ainda assim algo me incomoda. Levanto o braço para perguntar algo, ela não olha, levanto novamente, nada. Outros levantam o braço, nada. Enquanto isso ela fala de si. De sua vida pessoal, de suas experiências, de tudo que viveu. De suas experiências na área, histórias que são de fato interessantes.

Ela constantemente fala de si. E isso é o que me incomoda. E o que me parece é que ela está sempre cheia, não existe espaço para perguntas. Me lembrei do dia em que minha terapeuta me disse:

Tati, a impressão que tenho é que você está sempre cheia! Cheia de ideias, de opiniões, de perguntas e de histórias. Quando estamos cheios, não há espaço para mais nada, nem ninguém!

Sim, o espaço que o professor ocupa pode ser perigoso para a vaidade. O do terapeuta também. Existe uma linha tênue entre ensinar e exibir-se. E esse não é um problema só dos professores, é geral. Estamos todos sempre cheios. As redes sociais são um bom reflexo disso.

E “estar cheio” tampouco é um dilema pós-moderno. É humano. Esvaziar-se não é um convite novo, há mais de um século Freud propôs a cura pela fala através da associação livre. Perls, a técnica da “cadeira vazia”, a marca registrada da Gestalt-terapia. As diversas técnicas milenares de meditação buscam esse vazio.

Sim, é no vazio que encontramos lugar para criar, aprender e crescer.

Esvazie-se.

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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