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Alô Cida? É o Zé seu irmão.
Oi Zé! Quanto tempo a gente não conversa né?
Verdade mulher!
Zé, Fiquei sabendo de “umas” coisa estranha sobre você! Queria saber se é verdade!
Ixi Cida, já até Imagino o que é !. É o meu vizinho o Agenor! Aquele idiota! Ele me Xingou e eu é claro, xinguei ele. Foi a maior confusão!
O Zé, você é muito esquentado!
Depois ele não parou Cida. E me ameaçou. Amassei todo o carro dele com um pedaço de pau! Não posso fazer nada né? Ele que começou!
Nossa Zé! Mas onde você tá agora?
Então… Eu dei um tiro nele! O safado tá morto! E Eu to aqui preso no xilindró, por culpa dele!

Nossa mente é muito criativa. Com o tempo aprendemos a criar defesas psíquicas, isto é, argumentos, pensamentos e justificativas (que depois geram ações), que nos protegem, nos preservam, “aliviam” nossas culpas. Podemos observar uma criança pequena que mesmo sem alguém ensiná-la a mentir, de vez em quando ficamos impressionados com tamanha capacidade de criar fatos, histórias e é claro, mentiras para não ser punida de alguma forma.

Já dizia o filósofo existencialista Sartre: “O inferno são os outros”. A culpa é sempre do outro, do chefe, da sociedade, do país, do clima, das plantas, dos animais… A lista é grande!

Muitas vezes agimos ou pensamos como o Zé no diálogo acima. É claro que existem os especialistas em fazer o outro se sentir culpado. Já acompanhei casos de casais e famílias onde homens e mulheres rebaixavam-se e humilhavam-se culpando um ao outro sem perceber a tamanha destruição emocional que estavam causando em seus lares. Existem maridos que conseguem “fazer” suas esposas se sentirem tão culpadas que estas até chegam a pensar que são as responsáveis e também merecedoras da agressão física e psicológica vinda por parte deles. Não diferente, vemos mulheres que humilham e desvalorizam esposos e filhos culpando-os de tal forma que esses, não sentem mais prazer em viver.

Esse tipo de gente não aguenta suportar suas angústias e defeitos em seus próprios ombros, por isso precisam depositar suas cargas no ombro alheio. Parecem fortes, mas não são. Também precisam de ajuda, mas não conseguem ver.

Para várias pessoas (ou todas), é muito difícil nos analisarmos e percebemos que estamos errados, que naquele momento a culpa foi nossa, e que teremos que arcar com as consequências do que fizemos. Como escrevi no começo do texto, nossa mente é criativa e a maioria prefere cortar caminho. Tenta não sofrer, não se frustrar, na ilusão de que é possível passar ileso e sem crises por essas contingências angustiantes da existência humana. Aliás, a recorrência das doenças psíquicas “modernas” como os vícios e as compulsões, podem nascer dessa nossa incapacidade de lidarmos com a angústia (pois quem nega não a enfrenta).

Espero que possamos ter uma mínima maturidade para enfrentarmos nossos conflitos e assumirmos nossas responsabilidades perante a vida. Que aprendamos a nos defender das pessoas que vomitam suas culpas em nossas cabeças e que não façamos o mesmo com elas. É uma tarefa difícil e requer muito esforço e autoanálise, pois pensar dói, cansa e dá trabalho. Mas também pode ser bom, pois assim construiremos relacionamentos mais saudáveis, e se o outro ficar bem, eu também tenho mais chance de ficar bem.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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