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Expulso da CIA, Osbourne Cox escreve suas memórias contendo detalhes reveladores. Porém, o texto cai acidentalmente nas mãos de dois confusos e atrapalhados funcionários de uma academia de ginástica, que tentam faturar uma grana em cima das informações que conseguem. “Queime Depois de Ler” dos irmãos Coen propõe de uma forma bem-humorada uma reflexão sobre a nossa capacidade de interagir com as situações inusitadas oferecidas pela vida.
Nós encontramos duas posturas no Evangelho de Lucas 1, 26-38. A postura de Deus que deseja assumir-se como humano e a postura de Maria que decide aceitar a proposta de ser mãe de Jesus. Nessas duas posturas encontramos também dois aspectos em comum. Primeiro, as duas posturas estão à frente do desconhecido. Deus, transformando-se em humano e convivendo com eles, se coloca em uma situação incerta sobre a interação com seus futuros contemporâneos. Maria, assumindo-se como mãe de Jesus, não faz idéia das consequências que isso irá trazer a sua vida. Em segundo lugar, as duas posturas são expressões de fortaleza, pois os dois estão assumindo a vida na sua inteireza, não somente os prazeres de ser humano e de ser mãe, mas também os sofrimentos e as dores que poderão enfrentar.
Uma das grandes falhas de nossa educação talvez seja a ilusão criada pelos adultos de que a vida é maravilhosa e que nós temos o controle total das situações. Nós crescemos com esta ilusão e a alimentamos durante a vida. Por isso, sofremos muito quando a vida nos oferece algum momento de frustração. Assim, vivenciamos estes momentos como se fossem extraordinários e não pertencentes ao ritmo normal da vida. A consequência da ilusão de que a vida é maravilhosa é que nos tornamos fracos diante dela. A característica do fraco é procurar evitar as situações de fracasso. Um exemplo típico é o jovem que possui a vocação para ser médico. Como passar no vestibular de uma universidade pública é muito difícil, para evitar momentos de derrota, o jovem resolve prestar enfermagem. Ele será vitorioso e estará cursando uma Faculdade, mas não exercerá a profissão da sua vida, ou seja, a medicina. Outra característica do fraco é se atolar nas dores inevitáveis que a vida nos oferece. Ele se faz de vítima e sua dor é carregada como um verdadeiro fardo por muito tempo. Por fim, outra postura comum do fraco é encontrar uma justificativa para seu sofrimento. Geralmente, as melhores justificativas são as sobrenaturais: foi Deus que quis assim, este é o meu destino traçado, eu tinha que passar por isso, estou pagando algo que fiz em vidas passadas, este meu sofrimento vai servir para minha salvação, etc.
O forte possui uma visão completamente diferente da vida. A pessoa forte aceita a vida em sua plenitude. Ela sabe que a vida é incerta e que não possuímos o controle de tudo. Portanto, o forte está pronto para imprevistos e para a improvisação. Para o forte a vida não é composta simplesmente de prazeres e alegrias, mas também de tristezas e sofrimentos. Ele está preparado para viver tudo isso e, melhor, aprender com tudo o que a vida lhe oferece. O forte sabe que o Criador não estabeleceu nenhum sentido para a vida, por isso, somos livres para criá-lo. O forte é aquele capaz de tolerar frustrações – e tolerar não significa gostar delas – mas também é aquele que não abre mão de seus direitos por medo de perder a admiração e o amor das pessoas. Ele procura ser e fazer aquilo que acha correto, coerente, justo e enfrenta as dificuldades que suas posturas poderão criar. Aqui está a postura de um Deus que se torna humano e de Maria que se torna mãe de Jesus. Fazer com que Deus renasça em nós não é assumir uma ilusão ingênua diante da vida, mas assumir a vida em sua completude, procurando dar um sentido a ela. E o sentido essencial é sairmos da vida melhor do que entramos. Nós entramos na vida como bebês frágeis, egoístas e dependentes. Nossa missão é sairmos da vida como pessoas fortes, justas e independentes.