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Quase-poema dedicado à vereadora Marielle Franco, heroína do Brasil de verdade)

Esculturas em flor
profecia da beleza
que vem
“por mão de mulher” (Jt 9, 10)
— beleza das coisas
e do carinho das pessoas!
Templo é jardim
casa é campo
culto é cultura
cultura é cultivo
humanidade e Natureza
tudo um só
a beleza-agora
manancial
da beleza-amanhã:
da contemplação
à reflexão
da reflexão
à anunciação:
“Deus criou o céu
e a terra” (Gn 1, 1)
o primeiro céu passou
novo céu nos chegou (cf. Mc 1, 10)
banhadas de sol
flores
brotam do chão
a brilhar ao vento
beleza em movimento
feita música, dança
e paixão.
Profetisas
são mulheres que cantam
tocam tamburins
saltam, rodopiam
por entre flores
dançam.
Flores festejam
o futuro
a beleza que existe
é semente
de brotar impaciente
luz oculta
na “noite escura”
louca pra raiar.
Profecia:
escultura
do futuro
não basta mirar
não basta dizer
urge fazer
se a beleza é possível
é preciso
estética se faz ética
desejo se faz dever
até que venha acalanto
a embalar o novo
por nascer.
Contemplação gera
obrigação
no trabalho de parto
da inteira criação (cf. Rm 8)
o corpo do universo
novo
luminoso
como no primeiro dia
a nascer
do útero
como do dentro das flores
tudo se mostra à luz
formas, perfume, cores…
a beleza projetada
pelo dever fecundada
a tomar corpo
na beleza praticada:
estética se faz ética
ética se faz política.
Se o mundo é bonito
ah, se fosse ainda mais belo!
se é possível
é preciso
desejo se faz dever
contemplação
obrigação
se faz ação:
o grito de Agar
das pedras do deserto
nascentes d’água
a arrancar (cf. Gn 16, 6-14; 21, 15-19)
Miriam
de Moisés irmã
“estrela da manhã”
toca tamburins
com mulheres festeja
os primeiros vagidos
do povo
das águas a nascer (cf. Ex 15, 14-17.20-21)
Débora
juíza e profetisa
anuncia a cantar
carros inimigos
nas águas a afundar (cf. Jz 4-5)
Ana
seca de útero e de peito
gera o profeta guerreiro
nas águas
das próprias lágrimas (cf. 1Sm 2)
Ester
rainha intercessora
com graça e paixão
defende seu povo
da traição (cf. Est 7)
Judite
esquece de viúva a tristeza
recobra beleza
ao ouvir do inimigo vencido
o gemido (cf. Jt 9, 10)
Maria
mulher sozinha
de Nazaré
a incrível Palavra
acolhe com fé:
tornar-se mãe
de inumerável
companhia incontável
povo em caminhada (cf. Lc 1, 26-56; Hb 11, 1 a 12, 13)
Tantas outras…
profetisas sonhadoras
operárias do futuro
da beleza escultoras
também aqui
para além das dores
bem junto a nós
“por mão de mulher”
a profecia das flores:
formas, perfume, cores
contemplação
obrigação
de fazer-se ação
de amorosa comunhão
e partilha do pão…
(Quase-poema, sem data, escrito por ocasião do “Festival de Flores”, evento anual na Catedral do Redentor, na Diocese Anglicana de Pelotas-RS, onde fui bispo por quase sete anos. Agora publicado pela primeira vez, em homenagem à vereadora MARIELLE FRANCO, heroína do Brasil de verdade)

Obs: O Autor é Bispo Emérito da Diocese Anglicana do Recife
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB….

Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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