Frei Betto 15 de abril de 2018

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A partir de agora o presidente da China pode ser sucessivamente reeleito. Isso significa um retrocesso aos tempos imperiais. A diferença é não ser considerado imperador, e sim ditador.

Com plenos poderes nas mãos, Xi Jinping cuidará de afastar da máquina pública todos os potenciais adversários. Só dois fatores poderão derrubá-lo: um golpe de Estado ou a morte.

O poder desperta a ambição e faz multiplicar a cobiça”, dizia Aristóteles. Os espanhóis cunharam um provérbio que diz o mesmo em outras palavras: “Si quieres conocer a Juanito, dale un carguito” (Se queres conhecer a Juanito, dá-lhe um carguinho). Em dois anos no Palácio do Planalto, como assessor presidencial, aprendi que o poder não muda ninguém, faz com que as pessoas se revelem.

Por que o poder é a mais sedutora ambição do ser humano e a maior de todas as tentações, acima do dinheiro e do sexo? Porque virtualmente possibilita a realização de todas as demais ambições. Ele “diviniza” o poderoso. Sempre cercado de quem lhe faz eco, se reveste de imunidade e impunidade. Qualquer de suas palavras e atitudes é sucedida de elogios, o que o priva da capacidade de autocrítica.

O poder nasceu democrático. Toda a tribo debatia como abater o mamute e distribuir a carne à satisfação de todos. À medida que a tribo trocou o nomadismo pelo sedentarismo, tornou-se possível conservar o excedente da caça e da colheita. A apropriação desse excedente empoderou seus responsáveis. Poder legitimado por xamãs, feiticeiros e sacerdotes que sacramentaram a autoridade da minoria sobre a maioria.

Se na monarquia o poder se deslocou de Deus para os reis, na democracia ele trocou o trono pelas ruas. O poder seria concedido pelo povo e em seu nome exercido. Isso de fato jamais aconteceu. Os eleitos criaram uma enorme barreira entre a rua e o palácio – a burocracia estatal. Instituições intermediárias, como partidos, ministérios, agências reguladoras e o aparato policial militar, tornam o governo praticamente impermeável às demandas populares.

O poder é, sim, permeável às demandas da elite, manifestadas pela mídia, bancos e empresas. Em uma sociedade marcada por abissal desigualdade social, o poder é sempre monopólio da minoria afortunada.

A fratura mais grave da democracia é a que separa poder político do poder econômico e submete o primeiro ao segundo. O eleitor vota, a elite financeira elege. Os cidadãos não apenas são excluídos das decisões que regem a economia, como também são retalhados em classes sociais distintas e antagônicas de acordo com a renda a que têm acesso.

Mais importante do que saber quem exerce o poder é discernir para quem ele é exercido. Para uma classe minoritária? Para a maioria da população? “A loucura dos grandes precisa ser vigiada”, alertou Shakespeare.

Em ano eleitoral, os eleitores devem pesquisar bem o perfil e a vida pregressa de cada candidato. E votar naqueles que inspiram confiança de agir com ética por mudanças estruturais em favor da maioria da população.

Obs: Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

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