1. A Equipe de Educação Sindical, após estudar a região do Lago, identificou que a população sofria dois grandes problemas: a) a pesca criminosa feita por uma empresa estrangeira que acabava com os peixes; b) uma estrada que atravessava os lotes, feita pelo prefeito a pedido do fazendeiro que, no final, se apoderou de todas as terras – como todo latifundiário, ele também dizia: “não quero a terra de ninguém, só as que se avizinham com a minha”.

2. A Equipe de Educação estava convencida que o sucesso de um trabalho está na sua preparação. Por isso, a equipe de 36 pessoas, homens e mulheres, preparou-se, com capricho, para a visita no território do Lago. De forma simples, na aparência e na linguagem, durante dois dias, de dois em dois, de casa em casa, passavam, conversavam com as pessoas das diversas comunidades, e com elas, faziam suas refeições e se divertiam.

3. Na primeira comunidade veio uma surpresa. Depois dos dias de visita, o povo foi convidado para uma reunião que foi organizada com grande participação. No meio da reunião, a equipe, certa do que seria a resposta, perguntou: como o sindicato pode ajudar a comunidade? Veio a resposta que ninguém podia imaginar – se querem mesmo nos ajudar, ensine a nós as regras do futebol. Para não demonstrar o susto, a equipe propôs uma pausa para o café.

4. Nessa pausa, a equipe fez duro debate. Uns riram do pedido, outros acharam absurdo e alienação e teve gente que não queria discussão: o assunto era terra e peixe. Porém, um alguém que pouco falava, lembrou: na preparação dissemos que se deve partir da porta que o povo oferece… questionando, é claro, esse querer. Assim, na volta ao plenário, concordaram em ensinar as regras, se o povo explicasse o porquê desse pedido.

5. Veio a explicação – todo fim de semana, havia torneio e a comunidade perdia porque o juiz roubava. O problema não era perder, pois, no jogo se perde ou se ganha. O problema é que na outra semana vamos perder, de novo por não conhecer as regras. Mas, o pior é a gozação que fazem de nossa cara! Desanimados, então, vamos para o trabalho e produzimos quase nada…. Futebol era mais que diversão, era questão econômica!

6. As equipes contaram sua experiência. Mas, chama a atenção o que aconteceu, na última comunidade, na boca do Lago. Quando a equipe perguntou em que poderia ajudar, a resposta foi radical – ajudem a pegar esse estrangeiro que leva nossa comida! Agora, os educadores já sabiam que deviam dizer sim à comunidade. Até aproveitaram para fazer um comício exaltado contra a exploração dos bens públicos pelos estrangeiros.

7. “Nós topamos”, disse um educador, enquanto fazia uma tabela no quadro. Sabia que devia dizer sim… problematizando. O que o explorador tem? Tem licença e apoio do governador, prefeito, polícia, uma metralhadora na proa do navio…. E nós o que temos? Quase nada! Viram que não basta a vontade e a revolta. Para garantir vitórias é preciso esperteza e força. (Nove meses depois, com ajuda de todo o Lago, afastaram o intruso).

A formação é feito uma pescaria. No fim, se faz um balanço do trabalho. Desta vez, entre as lições aprendidas se firmou que educação popular: 1) se faz no meio do povo; 2) deve estar ligada a ações de mudança; 3) exige séria preparação; 4) parte da porta que o povo oferece e não da vontade do educador; 5) acolhe a ideia do povo, mas problematiza seu desejo, pois, muitas vezes, o povo sabe o que quer, mas quer o que não conhece. 28 de março de 2018

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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