1 de abril de 2018
… Mas deixai-me poetar
Em nome dos que não sonham,
Dos que calçam desespero
Em percursos cotidianos,
Dos que cruzam confluências
Com pára-brisas de tédio,
Dos fugitivos, nos bares,
Dos vencidos que se amam,
Dos inocentes que esperam.
… Mas deixai-me poetar
Neste esvair sem sentido
Com palavras indomadas,
Ou com vocabulos mansos.
– Que eu cante a vida que passa
E os destinos se destino
– Que eu cubra de redondilhas
As damas da madrugada,
E meus versos sejam potros
Onde as crianças galopem,
Lona de circo estelante
Vestindo a fome do mundo,
Valsa-brisa em realejo
Na esquina dos desencontros.
Sei da lógica das máquinas,
Das avenidas neuróticas,
Do roubo das alvoradas
E dos anjos que se matam.
Sou feito de tudo e nada.
… Mas deixai-me poetar!
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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