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Meus queridos amigos

Se eu pudesse, a Vigília da Páscoa seria no Alto da Sé, na madrugada do Domingo da Ressurreição. A Vigília seria preparada tanto pelo povo do Recife quanto pelo povo de Olinda. A Ressurreição de Cristo é garantia da nossa ressurreição. O povo do Recife, se eu pudesse, se prepararia para a Vigília da Páscoa visitando irmãos ameaçados de despejo, que é ameaça de miséria, prima-irmã da morte. Não falta visita a escolher: Ilha de Joaneiro, Brasília Teimosa, Planeta dos Macacos, Coelhos, Avenida Central, Coque, Chacon, Formigueiro, Caçote, Alto do Jordão, Dois Carneiros, Três Carneiros, Linha Férrea da Imbiribeira, Boa Ideia, Vietnam, Torre, Cabocó, Várzea, Ibura, Baixa do Jardim São Paulo, Bode, Mata Sete, Terra sem Deus, San Martin, Beirinha, Alto da Favela, Alto da Esperança, Alto José do Pinho, Alto do Boi, Alto do Deodato, Alto do Céu, Dois Unidos, Comunidade Maria Estevão, Guabiraba, Macaxeira…

O povo de Olinda, se eu pudesse, se prepararia para a Vigília da Páscoa, visitando Ponte Preta, Saramandaia, Embalo, Azeitona, Vila da Aura, Vila da Esperança, Beira do Canal, Vila do Lixo, Maruim, Santa Terezinha, Catolé… Se eu pudesse, trocaria a hora da Vigília: Em lugar de começar às 10 da noite, começaria às 4 da madrugada.

Queria que quando chegasse a Santa Missa, quando chegasse a hora da elevação da hóstia, o sol já viesse surgindo como imagem viva da Ressurreição de Cristo e, um dia, da nossa ressurreição. Se eu pudesse, a Vigília não ficaria só em palavras e propósitos vagos. Se eu pudesse, o povo de Olinda e Recife, mais unido do que nunca, faria o juramento de chamar a atenção, dentro da ordem, sem sombra de ódio, mas com decisão, para que se torne humana a urbanização do Grande Recife.

Não consentir que as áreas, cujos nomes citei aqui — e não disse o nome de todas — não consentir que estas áreas sejam mais de morte do que de vida. O povo ali, quando muito, tem uma subvida.

Não consentir que para embelezar a cidade, os pobres sejam varridos para cada vez mais longe. Cristo, continuando Filho de Deus, se fez homem para que todos os homens se sintam filhos de Deus e irmãos entre si.

Cristo veio para que todos tenham vida em abundância.

Vigília da Ressurreição deve ser compromisso de não deixar que fique só uma meia dúzia clamando para que haja trabalho e justiça para todos, vida e vida plena para todos.

“Se só uma meia dúzia pedir justiça e vida para todos, a meia dúzia será queimada como subversiva e comunista”.

Se todos nos unirmos e em nome de Cristo ressuscitado exigirmos vida e vida plena para todos, ficará evidente que clamor por trabalho e justiça para todos é exigência do Evangelho”.

“Clamar por vida e vida plena para todos é a melhor maneira de viver a Vigília da Ressurreição, a Vigília da vitória de Cristo sobre a morte e suas primas-irmãs, a miséria e a injustiça”.

Obs: Em tempos Pascais um texto de Dom Helder falando como ele gostaria de celebrar a Páscoa na Arquidiocese de Olinda e Recife. A crônica foi lida em seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE.(Sábado, 18.3.1978)

Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
. Ver AUTORIZAÇÃO do IDHEC no item  OBRAS LITERÁRIAS.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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