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Pensando em como a vida corria nos trilhos. Os passarinhos nas janelas. As flores intocadas, só ali expondo beleza. As árvores crescendo forte para nos dar sombra. A água pura bebida diretamente da fonte. Gente normal respeitando seus semelhantes. Cortesia nos relacionamentos sociais. Casamentos duradouros. O beijo depositado na testa da minha mãe quando meu pai chegava do trabalho. O pão quentinho servido com café de coador de pano diretamente do bule. A missa de domingo com o “bença padre” na chegada. Os passeios na pracinha. A infância brincando na rua sem susto. A primeira paixão pelo professor de história. Amores platônicos e meninas se sentindo mocinhas dos romances lido as escondidas. A severidade e o pulso firme dos inspetores escolares. As cadernetas carimbadas com a frequência denunciando nossas escapadelas. O biquíni por baixo do uniforme pra matar aula na praia. O olho deslumbrado descobrindo a vida. O galanteio do vizinho do apartamento ao lado cantando minha linda normalista. Os coretos da praça. As bandas se revezando em exibições. Os desfiles de sete de setembro e o orgulho da marcha impecável. O primeiro beijo roubado e a cara vermelha que denunciava timidez. A busca pela felicidade e os dramas por não ter o vestido desejado exatamente pra festa daquele sábado. E a mãe na máquina de costura pra resolver o problema. As broncas quando se chegava depois do prazo estipulado no relógio da parede.
Parece que se passaram duzentos anos em cima desta história.
E a vida perdeu o brilho, a cor, o sabor, a alegria.
Mataram todos os sonhos, atropelaram todas as esperanças. Deixaram um buraco do tamanho do universo dentro do meu peito. Fizeram dos meus planos um caderno de rascunho cheio de rasuras.
E me mataram a única alma que eu tinha.
elza fraga
Pesando a vida enquanto ainda consegue palavras.
Obs: Imagem enviada pela autora