elza fraga 1 de março de 2018

[email protected]
tempoinverso.blogspot.com.br
contosincantos.blogspot.com.br
versoinverso.blogspot.com.br

Nesta minha ânsia de consertar o invólucro, emprestado para atravessar a vida, tento acreditar na humanidade da ciência, procuro quem me cure a ferida, quem me acolha, vista minha camisa, tente sentir o que sinto, me entenda, me ajude, se coloque no lugar das minhas queixas, e as sinta na carne por um único segundo.

E, principalmente, alguém que acredite em mim.
Pois tenho um grave defeito de fabricação, sou transparente.
Não entendo destas mentiras sociais que se conta pra não ferir suscetibilidade.
E mesmo não querendo magoar um outro ser, mentir pra mim é quase impossível.
Se digo dói é porque está a doer no limite do suportável. É isto é só uma metáfora porque não é dor o que me assombra. É bem maior meu pesadelo.

Acho que é esta imperfeição, esta mania de olhar no olho e me contar inteira, que vai acabar me fazendo perder a luta pela vida antes da hora.
Ninguém respeita os verdadeiros, ou talvez não acreditem neles numa terra onde há tantos seres falsificados e revestidos d’um personal adequado a cada ocasião que se apresenta.

Então deixa eu me apresentar para a ciência, sou apenas mais uma entre a turba de buscadores de luz, vou de mão em mão buscando o socorro necessário.
Nunca acuso outros do meus males, mas entendo quando estou num barco onde não há mais remos disponíveis nem colete salva-vidas sobressalentes a me serem estendidos. E então busco a margem do rio e, calmamente – desço, mesmo que isso me afogue a alma.

Sou grata a todos os que tentaram, e tentam ajudar, e não me revolto quando não conseguem mais.

A vida flui e corre, em alguma hora, em algum campo de batalha, vou ser ferida de morte, a sorte não vai mais poder fazer o milagre do conserto. A minha programação já anda dando erro, um dia ela sai do ar, ou queimo o chip, ou meu cartão de memória se apaga.

E isso não é queixa, até que melhorei uns setenta por cento, é só deixando claro que não estou no meu melhor momento.
E estou sozinha nesta minha luta.
O risco é meu, as decisões são minhas.
Se certas, se erradas, eu irei pagar o preço.
Não tenho amparo, aconselhamento, nem um ombro em que possa recostar e chorar o meu lamento, até acabar tudo, com final feliz ou infeliz.

Estou presa dentro de um conto longo que não é meu, quem escreve meu roteiro não sou eu.
Queria poder dar um desfecho a minha maneira, do jeito que acabo as histórias que escrevo, e reverter tudo que me pesa agora.
Queria só poder escrever o final desta história.

Teria um anjo, em forma de especialista na área que necessito, vindo de um outro plano, com meu mapa de vida na mão, me escrevendo de receita:
saia pro sol, vai clicar as suas rosas, suas montanhas, seu verde, vai escrever suas poesias, olhar suas estrelas.
Segue o caminho cantante, chegue lá longe, aonde dançam as fadas, e dance com elas ao som do vento.
Vai ser feliz, enquanto ainda há tempo.

Obs: Imagem enviada pela autora

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]