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Imagine-se morando no paraíso onde você não precisa fazer muito esforço para conseguir o que quer. Nesse lugar, com uma temperatura agradável,você tem acesso à uma boa comida sempre que sentir fome e, ainda, consegue ouvir um som que te acalma reverberando dentro desse paraíso. Ali não é necessário dizer nada e tudo já é entendido. Tudo se encaixa, inclusive o seu próprio corpo.

Mas chega uma hora que é preciso sair, ou melhor dizendo, você é expulso do paraíso e entra em um mundo totalmente estranho. O nome desse paraíso? Útero materno. Muitos psicanalistas concordam que esse é o primeiro trauma vivido pelo ser humano: O trauma do nascimento. Daí você cresce e precisa enfrentar as contingências da existência sem entender muito bem como o mundo gira. Paraíso nunca mais!

Depois, você começa a entender que todos temos diversos papéis sociais a desempenhar e que, em muitos deles, acabamos por mentir ou omitir algumas informações e comportamentos para nossa convivência se tornar suportável. Então aprendemos (e muito bem) a encobrir nossos defeitos e sentimentos, a seduzir as pessoas a gostarem da gente e a mostrar a todo custo que está “tudo bem, obrigado”. Somos essencialmente carentes e é muito angustiante para a maioria de nós saber que não somos muito especiais.

O problema é que manter essas “máscaras” dá um trabalhão, nos deprime e gastamos muita energia psíquica que poderia ser destinada a tantos outros conteúdos melhores e mais criativos. O psicanalista Jorge Forbes diz que “Estar sempre vivendo da expectativa do outro e o que ele pensará de mim, é ser controlado por esse outro indiretamente”. Dizendo de outra forma, ficamos escravos de atenção e olhar alheio, esse mesmo olhar que era para ser mais contemplativo e compassivo do que inquisitivo.

Você já deve ter percebido que os velhinhos, ou como canta Fernando Anitelli, “crianças que nasceram faz tempo”, já não se preocupam muito com o que vão pensar deles. Falam coisas que constrangem a todos no almoço de família, mas que você, no fundo, também pensou em dizer, mas não teve coragem. Eles viveram muita coisa e já entenderam que não têm muito tempo a perder para ficar se preocupando com “bobagens cotidianas” e sustentando máscaras desnecessárias.

Conheço famílias de comercial de margarina que a todo custo tentam manter uma imagem idealizada e falsa. Tentam mostrar que são daquelasfamílias onde todos acordam de manhã já com o cabelo penteado, já com hálito refrescante, tomando café juntos com a mesa farta e com todos os membros muito saudáveis e bem encaminhados na vida. Até que surge um escândalo dentro dela e a família fica mais preocupada com sua reputação do que com o problema em questão. Triste realidade onde os nomes e as máscaras são mais importantes que as pessoas.

O escritor Oscar Wilde escreveu que, “as nossas caras são verdadeiras máscaras que nos foram dadas para ocultarem os pensamentos”. E é claro que não existe ser humano no mundo que não use uma máscara ou não tenha segredos que só ele saiba. E que bom que nem tudo o que pensamos é dito ou executado pois, se assim fosse, o mundo estaria muito pior do que está.

O que quero dizer com tudo isso é que talvez consigamos deixar cair algumas máscaras ou, pelo menos, diminuirmos a intensidade que as usamos pois, essas, a longo prazo vão ficando mais pesadas e difíceis de carregar.

Por fim, quem gosta mesmo da gente respeita como somos. E, quando estamos errados, dizem a verdade com amor torcendo sempre para sermos a melhor versão de nós mesmos. Não raramente ouvimos dos nossos amigos e familiares “Vamos parar com a enrolação e com as farsas porque eu já te conheço faz tempo. Conta aí logo o que está acontecendo!”. Bons amigos e familiares são os que nos auxiliam a tirarmos nossas máscaras e não os que nos ajudam a colar outras tantas em nosso rosto.

Obs:  O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.
Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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