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Nesta Quaresma, os bispos do Brasil convocam mais uma vez os cristãos católicos a  estudarem e refletirem tema de pungente realidade: o tráfico humano. Neste nosso mundo de ambição e sensualidade, o tráfico de pessoas humanas ao redor do planeta assume proporções inauditas.  Explorar o trabalhador incauto, aproveitar o desejo de ascensão social a qualquer custo de jovens despreparadas, unido à ingenuidade, tem sido regra comum para ambiciosos de lucro fácil e aproveitadores da ignorância de tantos.

O Papa Francisco, em 28 de fevereiro último, com forte expressão, falou da desumanização da sociedade contemporânea. No ano passado, ele havia orado pelos náufragos de Lampedusa, emigrantes africanos que buscavam a Itália, fugindo da miséria e escravidão, e pedira providências às autoridades italianas.

O Manual da CNBB da Campanha da Fraternidade deste ano apresenta exemplos aterrorizadores. Alguns deles:

– Tráfico para exploração no trabalho. Homens aliciados para trabalhos forçados em condições de quase escravidão, na construção das hidrelétricas ou na agricultura. Conheci  em Alagoas uma cidade, cujo vigário me dizia que sua população estava sendo reduzida a velhos, mulheres e crianças, porque os homens válidos estavam indo trabalhar nas usinas de açúcar de Minas Gerais. Eu mesmo presenciei nessa cidade, em visita pastoral, o embarque em três ônibus de mais de uma centena de trabalhadores para usinas mineiras.

– Tráfico para exploração sexual. Mocinhas pobres e ingênuas são levadas, iludidas, notadamente para a Espanha, para prostituição. Lá, têm o passaporte retido e nunca conseguem pagar uma dívida falaciosa, oriunda da passagem aérea e da manutenção em bordéis.

 – Tráfico para extração de órgãos. Este crime nefando consiste na  venda e exportação de órgãos de doadores voluntários ou enganados, para realizar cirurgias. O caso mais conhecido foi apurado no início de ste século, com vítimas que vendiam um rim no Recife e eram levados para Durban, na África do Sul, onde se submetiam a cirurgias para extração do  órgão. Em 2004 – informa a CNBB – o Ministério  Público Federal denunciou 28 pessoas por esse crime. A estimativa é que o esquema criminoso tenha movimentado em torno de US$ 4,5 milhões, comercializando cerca de 30 órgãos.

 – Tráfico de crianças  e adolescentes. São duas modalidades igualmente criminosas: para adoção ou para trabalhar. Na década de 80, informa a CNBB, quase 20 mil crianças foram enviadas ao exterior para adoção. E é grande o contingente de crianças trabalhadoras: são 866 mil crianças, de 7 a 14 anos, alistadas como trabalhadoras no Brasil.

Diante desse quadro de exploração humana, nossa consciência cristã exige o mais  veemente repúdio e ações coercitivas, que estiverem ao nosso alcance, nem que seja ao menos a denúncia  corajosa.(04.04.14)

Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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