(para Ana Miranda)
Cercado de coisas que despedaçam um coração limpo
querendo viver sem se perder neste mundo,
arrastando essa alma tinhosa perdida em labirintos,
buscando formas de protegê-la
das coisas de dentro e das coisas de fora.
Rodeado de tentações pela distância da casa de deus,
sem muralhas de pedra para guardar minha virtude,
agarrado nessa provinha vagabunda
de que deus manda provações pra nos testar,
eu, que nem sei se sou seu filho.
Cego sob essa vigília de tantos olhos sobre mim,
sem divisar os maiores segredos: morrer ou viver,
qual terá mais peso no baque surdo da queda?
Única certeza do ser material, bastardo e finito.
Portando um desejo claro e alumiado
contra um motivo escuro e desalumiado.
Vacinado de que a gente não consegue
é fugir do que está dentro da gente.
Prenhe do temor das contradições,
o peito sempre ungido de abismos,
sabedor de que a gente ama
ou às vistas ou em sonhos,
e que, mesmo presos uns aos outros,
seremos sempre estrangeiros entre si.
Assentado sempre nessa espera
de que o sol se vá,
de que a noite se vá,
o tempo, a vida, enfim,
mas sem nunca saber de quê.
Que a paz é sinal de se iludir,
e que toda regrinha da vida pode ser resumida
em brincar e esquecer.
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