Marcelo Barros 1 de fevereiro de 2018

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A humanidade começou esse ano de 2018 assistindo às ameaças mútuas que os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte trocam entre si. A cada dia que passa, a sociedade internacional tem mais razões para duvidar da sanidade mental desses dois senhores que parecem adolescentes sem educação doméstica. Apesar disso, qualquer um dos dois mantém o poder de apertar um botão e destruir a Terra. A explosão de uma bomba nuclear detonaria os mais de cem mísseis nucleares, armazenados em diversos países do mundo. Seria o fim da humanidade e dos seres vivos nesse planeta.  Diariamente, dormimos ao som dessas ameaças reais. Ao mesmo tempo, diariamente, como se fosse uma homenagem a Hitler, governos de vários países da Europa mantêm campos de concentração para migrantes e refugiados que, por acaso, escaparem dos naufrágios e das perseguições dos barcos patrulheiros.

Por tudo isso, é bom lembrarmos que nesse ano comemoramos os 70 anos do martírio do Mahatma Gandhi, assassinado em Nova Dehli, Índia, no dia 30 de janeiro de 1948. Gandhi foi abatido pela bala de um fanático religioso que fez isso para defender o Hinduísmo. O mártir caiu em meio à multidão e só pôde dizer: “Meu Deus, meu Deus”.

Nestes dias, multidões de peregrinos, vindos de todas as regiões da Índia, visitam o seu túmulo. Muitos levam flores e as depositam no monumento. Os adultos chamam: “Mahatma Gandhi!”. As crianças respondem: “Anantha-he!”, isto é, “para sempre”.

Nesse mundo, com exceção do papa Francisco, quase não há mais nenhum líder político de estatura espiritual consagrado verdadeiramente ao povo. Por isso, precisamos nos voltar para Gandhi, o Mahatma, isto é, a “Grande Alma” e desejar que seu exemplo e sua mensagem sejam ainda atuais e eficazes contra a violência dominante.

No mundo inteiro, tem havido muitas manifestações por um novo mundo possível. Elas juntam pessoas e associações muito diversas. Provavelmente, as duas contribuições maiores de Gandhi para esse novo momento da humanidade são a insistência na coerência entre a ação sócio-política da pessoa que quer mudar o mundo e o modo como ele vive seus valores e sua vida pessoal. Gandhi dizia: “A minha vida é um todo indivisível,e todos os meus atos convergem uns aos outros;e todos eles nascem do insaciável amor que tenho para com toda humanidade”. Esse amor é que o levava à ação não violenta que sempre contestava a opressão, mas conseguia ver a pessoa humana em sua sacralidade. Mesmo se essa pessoa era um adversário ou inimigo político, devia ser respeitado. Essa era a verdade na qual Gandhi acreditava e que ele defendia. Em sua luta pacífica pela verdade, Gandhi sabia que essa verdade se chama Deus. “Tudo o que eu faço é na busca de Deus. Anseio por ver a Deus, face a face. O Deus que eu conheço se chama Verdade“. Ele dizia: “Não tenho mensagens. Minha mensagem é simplesmente a minha vida”. Ele intitulou a sua autobiografia: “A história das minhas experiências com a verdade“.

Para Gandhi, a verdade não é apenas um conceito filosófico. É a realidade da vida baseada na solidariedade e na justiça. Essa é a base ética das tradições espirituais. Elas todas têm como objetivo que a fé se expresse em um novo modo de ser, de viver e de conviver. A Bíblia chama isso de aliança ou reinado de Deus no mundo. É a realização do projeto divino de uma sociedade justa, pacífica e unida em uma só irmandade. Conforme o evangelho, Jesus disse: “Procurem acima de tudo o reino de Deus e sua justiça e tudo o mais lhes será dado como acréscimo” (Mt 6, 33).

Obs: O autor é monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares.
É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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