Em entrevista ao portal da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Luiz Demétrio Valentini, bispo-emérito de Jales (SP), falou sobre a crise brasileira e disse que o silêncio das ruas não é uma concordância tácita com o que está acontecendo, como alguns querem fazer acreditar. Segundo ele, a aparente apatia “é um sintoma preocupante de que não temos mais esperanças e sinais concretos para recuperar o rumo da caminhada histórica do Brasil”.
“Certamente, estamos vivendo um momento difícil, todos reconhecem, no qual há uma perca da identidade do povo brasileiro. Se torna necessário ajudar o povo brasileiro a reencontrar sua identidade e destino históricos, sua feição cultural, sua tradição e fazer convergir todas estas realidades para recuperarmos um projeto de Nação”, enfatizou o bispo, destacando que o país está esquecendo o projeto de nação.
“Estamos vivendo um momento difícil que se caracteriza, sobretudo, pelo descrédito das instituições e por sua incapacidade em recuperar e superar a pecha sempre crescente da sua falta de legitimidade perante o povo brasileiro”, argumentou.
Ainda de acordo com o bispo de Jales, se há dificuldades de convergências em torno de um projeto de país por outro se criou uma convergência que “assusta”. Ele faz duras críticas ao Congresso Nacional e ao Poder Judiciário, e rechaça a agenda de reformas imposta pelo governo de Michel Temer.
“Há uma espécie de trama que está sendo orquestrada para que isto se torne invisível e leve o Congresso a retrocessos políticos como, por exemplo, o que estamos assistindo com a nova lei trabalhista aprovada e a nova a lei da previdência social que estão propondo. Existe um interesse do liberalismo econômico que está voltando com força, como se a solução do Brasil fosse voltarmos aos tempos da revolução industrial em que se confrontavam os pequenos contra os poderosos, sempre com desvantagem evidente para os pequenos”, reforça.
E acrescenta: “Agora estamos assistindo esta realidade em que os grandes interesses convergiram e o presidente que temos serve de instrumento da execução destes interesses escusos que não são publicados, mas que aos poucos precisamos identificar para nos posicionar diante da crise política que estamos vivendo”. (05.08.17)
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.