Rômulo Vieira 1 de fevereiro de 2018

É muito difícil, na atual conjuntura que vive o Brasil, se falar em “qualidade de alimento” quando o maior desafio deste País é o Programa Fome Zero.

Como se falar em qualidade de alimentos quando considerável parte de nossa população não dispõe nem de alimentos?

Muitos não conseguem ter três refeições diárias. Vários têm apenas uma refeição diária e grande parte da população não tem nenhuma refeição por dia.

 Neste contexto é que vejo a importância das universidades, com seus profissionais contribuindo para minimizar, equacionar e quiçá solucionar este grave problema que envolve grande parte dos brasileiros.

Os profissionais da área de alimentos, da nutrição, da saúde, se deparam atualmente com um importante desafio: alguns indivíduos vivem o pesadelo da obesidade, freqüentando clínicas paga o emagrecimento, outros vivem o dilema da sobrevivência, buscando, na incerteza, o pão de cada dia para si e para os seus familiares. Qual a qualidade de alimento que deveremos trabalhar? Qualidade microbiológica? Qualidade de cozimento? A Qualidade química? Qualidade sensorial? Qualidade organoléptica? Qualidade na refrigeração.

Que qualidade de alimentos precisamos para atender esta população ambígua, em termos de necessidades nutricionais? Qualidade de alimentos para os obesos, para os desnutridos ou para os maus nutridos?

 Sem dúvida umas das maiores preocupações que os profissionais da área devem ter, é a de se ter alimentos e, em seguida, que estes sejam de boa qualidade.

Sabe-se, por exemplo, da importância das vitaminas, micronutrientes essenciais que contribuem para o crescimento normal e a manutenção da saúde. Destacando-se aquelas antioxidantes que podem proteger o organismo contra radicais livres, evitando doenças degenerativas. Q qualidade destas deve ser inexoravelmente objeto daqueles que freqüentam as clínicas especializadas. Entretanto, para o outro grupo da população, os carentes de alimentos, talvez se deva procurar fontes alternativas destas vitaminas, pesquisando-se produtos naturais, da região, de baixo custo, e, divulgando-se assim, aos mais necessitados suas qualidades.

É notório que não é necessário só ter o alimento. Para uma melhor compreensão da importância da qualidade destes pode-se ter como exemplo o leite. Um alimento de destaque pela sua composição vitamínica, contudo, devido ao seu valor nutritivo, torna-se também uma fonte propícia ao desenvolvimento de microorganismos, inclusive patógenos, que podem trazer sérios riscos à saúde dos que venham a consumi-lo.

É necessário, portanto, manter a qualidade nutritiva do mesmo, preservando também a sua qualidade microbiológica. Um simples tratamento térmico, como a pasteurização, poderá preservar a qualidade deste rico alimento, aumentando o tempo de sua disponibilidade ao consumo, podendo então ser fornecido às populações de menor poder aquisitivo.

Para os três tipos de leite pasteurizados, existentes no Brasil: A, B e C já existe um certo controle de qualidade, entretanto dever-se-ia, além de produzir mais leite, produzir mais leite longa vida ou UHT (ultra high temperature), facilitando-se assim sua maior distribuição aos consumidores carentes de alimentos.

Para isto, todavia, são indispensáveis programas multidisciplinares, envolvendo diversos atores: governos, nas três esferas, federal, estadual, municipal iniciativas privadas; universidades; associações; dentre outros, para que se produza mais e com qualidade, permitindo-se assim um preço mais accessível à população, principalmente aos desnutridos.

Um grande desafio aos pesquisadores das áreas envolvidas na produção de alimentos é que eles encontrem fontes alternativas, dentro das inúmeras riquezas naturais, com as frutas regionais, melhorando sua qualidade nutritiva, sua qualidade microbiológica, sua disponibilidade no mercado por maior tempo, formas diversas de preparo, otimizando seu valor para a alimentação de crianças, para que estas substituam seus hábitos alimentares errados que levam a prejuízos, às vezes, irreversíveis no seu desenvolvimento, como a ingestão de refrigerantes e os gordurosos sanduíches.

Estes pesquisadores precisam desenvolver tecnologias regionais que permitiam aos idosos o sabor natural dos alimentos, os nutrientes adequados ao seu estágio de vida, a qualidade alimentar, a saúde, o bem-estar. Estas alternativas será contribuições relevantes das instituições de ensino-pesquisa e extensão, para o desenvolvimento regional, e conseqüentemente do país. Promovendo-se uma melhor qualidade alimentar e por conseguinte, melhor qualidade de vida.

Deve ser destacado também que estas tecnologias com produtos regionais, não só promoverão uma importante contribuição alimentar, mas estarão também promovendo empregos nos diversos setores do agronegócio, setor que presta a maior contribuição ao PIB – brasileiro. Mais empregos significa, melhor condição de vida, e conseqüentemente, melhor condição alimentar.  Melhor condição de vida, certamente gerará maiores riquezas e com estas, indubitavelmente, serão gerados mais empregos.

 Outros desafios aos pesquisadores da área são os produtos regionais ”artesanais”, como a manteiga de garrafa, a cajuína, a carne de sol e a paçoca, os doces diversos, o próprio mel, até mesmo a cachaça. Produtos consagrados, de paladar agradabilíssimo, na maioria das vezes, entretanto de qualidades nutritivas e sanitárias, no mínimo, questionáveis.

 No processo de fabricação artesanal de manteiga de garrafa, por exemplo, não se exerce o controle das etapas do processamento, inclusive do tempo e da temperatura utilizada para adequada fusão do produto, o que explica a falta de uniformidade do mesmo.

O mesmo ocorre com a cajuína, com os doces, com o queijo de coalho, dentre outros produtos artesanais. O que implica no fornecimento de produtos sem qualidade a toda a população usuária. Devendo ser salientado que estes produtos estão nas mesas das mais diversas classes sociais. Implicando em uma distribuição generalizada de produtos com qualidade alimentar sem um padrão seguro de qualidade.

É de fundamental importância o estabelecimento de padrões para estes produtos. Para que se possa, assim, avaliar a qualidade dos mesmos.

Como dissemos anteriormente é difícil se falar em qualidade de alimentos na atual conjuntura. Acredito que deveríamos falar, e trabalhar, para que todos tivessem qualidade de vida e, passando esta, inquestionavelmente pelo emprego, desse modo, sem dúvida, poder-se-ia assim atingir toda a população, notadamente os atuais carentes de qualidade em todos os aspectos da vida, inclusive de quantidade e qualidade de alimentos.

Obs: O autor, Prof. Dr. Rômulo José Vieira é Acadêmico da Academia de Ciências do Piauí; Acadêmico da Academia de Medicina Veterinária do Piauí; Acadêmico correspondente da Academia de Medicina Veterinária do Ceará; Acadêmico correspondente da Academia Pernambucana de Medicina Veterinária.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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