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Surge uma amizade entre dois jovens: Rory, um jovem rebelde, bem humorado, que fala o que pensa, não liga para as convenções sociais nem para nada, nem para ninguém, e Michael, que sempre levou uma vida completamente sem graça e enfadonha. O que estas duas pessoas tão diferentes poderiam ter em comum? Rory é tetraplégico e Michael tem paralisia cerebral. Descontentes com as “regras da vida” estes dois amigos inusitados planejam deixar a instituição onde estão internados para que finalmente atinjam seus objetivos: viver a vida com autonomia e em toda a sua intensidade.

Para compreender a mensagem da antiga narrativa do Gênesis 1, 26-31 é preciso ter a consciência de que o livro do Gênesis não possui a intenção de contar a origem histórica do planeta e muito menos do ser humano, mas sim de revelar aspectos importantes de nosso universo e de nosso ser. A grande intenção do Gênesis não é narrar a origem histórica do ser humano, mas revelar na verdade quem somos. Nesta pequena parte, encontramos três aspectos que são fundamentais para esta autocompreensão. Em primeiro lugar, nos encontramos em completa liberdade frente a Deus. Deus nos criou e nos entregou este nosso universo. Nele somos totalmente livres. Como seres humanos podemos destruir o universo ou aprimorá-lo com nossa inteligência. A liberdade pertence à essência dos seres humanos. O segundo aspecto é que somos imagem e semelhança de Deus. Como afirma a 1ª Carta de João, Deus é amor. E aqui encontramos o aspecto que nos assemelha a Deus: o amor. Este impulso de vida que possuímos e que nos leva tanto à realização pessoal como a nos relacionarmos de forma interpessoal necessitando do “calor” humano de outras pessoas é algo que também pertence à essência de nosso ser. Triste a pessoa que nunca foi amada por alguém e triste a pessoa que nunca conseguiu amar alguém. Existem milhões de jovens que são incapazes de se entregar ao amor em relação a uma pessoa, à sociedade e até a sua própria vida, porque não foram amados nos primeiros anos de vida. O amor é essencial para o nosso desenvolvimento como pessoa. Por fim, encontramos o terceiro aspecto quando, na narrativa, Deus praticamente ordena que o ser humano mostre seu domínio sobre os peixes do mar, as aves do céu e os animais de toda a terra. Aqui precisamos prestar muita atenção: domínio não é sinônimo de poder. Poder é o exercício da força sob coerção, ao passo que domínio é sinônimo de conhecimento. Eu possuo domínio sobre meu ser, sobre uma máquina ou sobre uma situação a partir do momento em que tenho conhecimento sobre meu ser, sobre a máquina ou sobre a situação. Deus nos ordena conhecer nosso próprio universo para que possamos usufruir dele e aprimorá-lo, vivendo harmoniosamente com este universo. Aqui estão os três aspectos fundamentais de toda a relação humana, seja ela comigo mesmo, com os outros ou com nosso universo. É necessário que possamos ser livres e viver em liberdade. Se não nos sentimos à vontade sendo nós mesmos, se não nos sentimos à vontade ao lado de uma pessoa (mesmo que a amemos), se não nos sentimos à vontade em nossa sociedade, perdemos a nossa dignidade de filhos de Deus. Da mesma forma, se não conseguimos nos conhecer com mais profundidade, se não vivenciamos uma verdadeira relação humana de conhecimento e se não conhecemos melhor nosso universo, estamos alienados e podemos ser facilmente escravizados, dominados e explorados. Como também sem conhecimento podemos nos autodestruir deteriorando nosso próprio universo. Por fim, se não nos amamos, se não somos capazes de nos entregar a uma relação de amor e se não somos amantes da vida, perdemos nossa dignidade, nos tornamos insensíveis aos sentimentos dos outros e deixamos de perceber o valor maior que é a vida. Amar significa deixar que o outro seja e possa se desenvolver da sua forma e não como eu queira que ele se desenvolva. Nas três dimensões acima, este amor precisa estar presente, caso contrário, não há liberdade e muito menos conhecimento. Se não somos livres representamos papéis e, ao invés da autenticidade, temos a falsidade e a hipocrisia, o que impede não somente o verdadeiro conhecimento como também o verdadeiro amor. Se não conhecemos somos incapazes de amar, como também temos a tendência ao poder e não ao domínio, o que significa a perda da liberdade. Se não nos conhecemos precisamos de um “cabresto”, alguém que nos controle e nos determine. Se não conhecemos o outro não possuímos confiança, o que nos leva a privar a liberdade do outro e acabamos tomando posse ao invés de amá-lo e, por fim, se não conhecemos nosso universo não podemos transformá-lo em uma sociedade igualitária na qual todos sejam respeitados como filhos de Deus. Portanto, a dialética da existência proposta pelo Gênesis é a dinâmica entre o amor, o conhecimento e a liberdade.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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