D. Demétrio Valentini 15 de fevereiro de 2018

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Em tempos de campanha eleitoral, é bom dar-nos conta que existem outras “campanhas”, mais arejadas e mais claras em seus objetivos.

Uma delas, sem dúvida, é a campanha contra a fome no mundo, lançada pela Cáritas Internacional, e assumida pelas Cáritas nacionais, em mais de 150 países. Uma campanha, portanto, que conta com o apoio institucional de uma das organizações mais ativas hoje no mundo.

O lema da campanha é abrangente e motivador. “Uma família humana, pão e justiça para todas as pessoas!”

Se todas as Cáritas estão dispostas a abraçar esta campanha, podemos dizer que a Cáritas Brasileira se sente particularmente envolvida, dado que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos no mundo.

Esta constatação nos apresenta diversas interpelações. Com vastas extensões de terras cultiváveis, e sendo um dos poucos países que ainda podem estender sua fronteira agrícola, ao se falar em fome, o Brasil precisa mesmo se sentir questionado.

Com a pauta de exportações de alimentos tão significativa, o Brasil bem que poderia urgir uma política mundial de produção e distribuição de alimentos, que superasse a esfera meramente comercial dos produtos alimentícios.

Pois de fato, uma das questões pendentes em todas as esferas políticas é o caráter prioritário que deveria merecer a circulação mundial de produtos alimentícios. O alimento não pode se relegado à condição de mera mercadoria.

Neste sentido, é evidente a complexidade da questão, pela incidência que uma determinada decisão tem sobre outras. As medidas adotadas para a esfera da comercialização, têm reflexos imediatos na esfera da produção. É por isto que a agricultura é a atividade econômica que mais precisaria ser regulamentada com critérios humanitários, sem desconhecer sua dimensão comercial, que também precisa de adequada valorização.

Pois às vezes acontece que uma determinada ação governamental para baixar os preços dos produtos agrícolas, acaba penalizando os agricultores que os produziram.

 Tudo isto para dizer que esta campanha contra a fome no mundo tem horizontes amplos, e traz questionamentos de ordem política e administrativa.

Mas independente destas complexidades, a campanha tem caráter de urgência, e pode contar com a adesão de todos, e se expressar através de diversas iniciativas, que precisarão contar necessariamente com a arrecadação de recursos financeiros,  que no seu destino poderão ser convertidos em alimentos que possam chegar ao alcance dos mais de um bilhão de famintos no mundo.

Assim, o sistema financeiro, que é  o setor que mais lucra com a ordem econômica vigente hoje no mundo, poderá prestar o bom serviço, de ser o mediador da solidariedade humana, neste causa tão nobre de saciar a fome dos famintos.

Outro aspecto importante desta campanha, é o apoio que ela já recebeu do Papa Francisco. Para entender o peso deste apoio, é bom dar-nos conta da estratégia do Papa em pautar seu pontificado. Ele fez diversos gestos simbólicos, que encontraram grande receptividade no mundo. Mas não bastam os gestos. Ele tomou algumas iniciativas, que podem ser chamadas de exemplares, para sinalizar ações mais envolventes. Pois bem, uma das iniciativas simbólicas foi o apoio dado a esta campanha da Cáritas, que ele quis assumir como sendo de toda a Igreja. Com isto, ele aponta as ações concretas contra a fome, como sendo a maneira prática dos cristãos colaborarem com a vida digna de todas as pessoas.  Assim a Igreja atende o apelo de Cristo: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (27.08.2014)

Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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