1 – DA DIVINA AUTORIDADE
Marcos 1,21-28
Um mestre diferente, que surpreende pela força libertadora da sua palavra.
Alguém que cresce aos olhos do povo, porque liberta das correntes do Maligno.
Essa é a única autoridade que interessa ao povo.
Se os discípulos e missionários forem portadores da mesma palavra, da mesma capacidade de libertar, de levantar os caídos para que respirem aliviados e vivam com dignidade, com certeza, gozarão da mesma autoridade. Causarão a mesma admiração. Gozarão da mesma fama. E provocarão o louvor dos libertados.
Nossas assembleias dominicais são de gente assim, que liberta e é libertada, que cresce em comunhão fraterna e se alegra pelos frutos da sua militância, gente que pode cantar com vibração o canto novo da libertação?
Como reler essa passagem do Evangelho e responder a essa pergunta, depois do que acaba de ocorrer em Porto Alegre?…
O Sistema Capitalista, que impera no mundo e aqui em nosso país…
Este sistema que explora a força de trabalho da Classe Trabalhadora…
Este sistema que corrompe os 3 Poderes da República para garantir seus interesses, seu lucro e seus privilégios…
Este sistema que hipocritamente acusa e condena os demais pelos crimes que ele próprio sistematicamente pratica…
Este sistema que se serve da grande Mídia para divulgar como verdade suas mentiras e fazer a cabeça das pessoa…
Este sistema acaba de condenar, sem provas, aquele que simboliza o sonho de mudança do povo brasileiro, sobretudo da Classe Trabalhadora e dos pobres em geral…
Com a condenação de LULA, vão enterrar de vez o nosso sonho de Justiça e Igualdade, de Vida com dignidade?…
Como conversar em nossas comunidades sobre o que anda acontecendo e está por acontecer?…
Como abrir os olhos e a mente das pessoas para que entendam o está por trás do que se passa… e percebam o Demônio que a gente precisa, hoje, expulsar?…
Um grande profeta surgiu,
Surgiu e entre nós se mostrou:
É Deus que seu povo visita,
Seu povo meu Deus visitou!
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Papa Francisco, em sua recente passagem pelo Peru, nos diz:
<< (…) Quando prenderam João [Batista], Jesus foi para a Galileia proclamar o Evangelho de Deus. Ao contrário de Jonas, Jesus, perante um acontecimento doloroso e injusto como foi a prisão de João, entra na cidade, entra na Galileia e começa, partindo daquela insignificante população, a semear o que seria o início da maior esperança: o Reino de Deus está perto, Deus está no meio de nós. E o próprio Evangelho nos mostra a alegria e a reação em cadeia que isso produz: começou com Simão e André, depois Tiago e João (cf. Mc 1, 14-20) e depois, passando por Santa Rosa de Lima, São Toríbio, São Martinho de Porres, São João Macías, São Francisco Solano, chegou até nós anunciado por esta nuvem de testemunhas que acreditaram n’Ele. Chegou até Lima, até nós, para se comprometer novamente, como um antídoto renovado, contra a globalização da indiferença. Com efeito, perante este Amor, não se pode ficar indiferente. (…) Jesus continua a atravessar e desperta a esperança que nos liberta de relações vazias e análises impessoais e chama a envolver-nos como fermento onde quer que estejamos, onde nos toca viver, naquele cantinho de todos os dias. O Reino dos Céus está no meio de vós – diz-nos Ele –, está onde sabemos usar um pouco de ternura e compaixão, onde não temos medo de criar espaços para que os cegos vejam, os coxos andem, os leprosos fiquem limpos e os surdos ouçam (cf. Lc 7, 22) e, deste modo, todos aqueles que dávamos por perdidos gozem da Ressurreição. Deus não Se cansa nem Se cansará de andar para chegar junto dos seus filhos; junto de cada um deles. Como acenderemos a esperança, se faltam profetas? Como enfrentaremos o futuro, se nos falta unidade? Como chegará Jesus a tantos lugares, se faltam ousadas e válidas testemunhas?
2 – DA DIVINA INCLUSÃO
Marcos 1,29-39
Doentes são curados. Possessos são libertados. Curados e libertos se inserem com dignidade na comunidade humana, com o gosto de servir e exercer a sua cidadania.
É assim que o Reino de Deus vai se tornando realidade e a vontade do Pai vai acontecendo “na terra como no céu”. É assim que o paraíso perdido vai sendo resgatado.
O sol vai se pondo, a noite, chegando, no entanto, para este povo que jaz “na sombra da morte”, uma luz se levanta e nasce um novo dia. É festa em Cafarnaum.
Pode-se dizer o mesmo dos nossos domingos, das nossas comunidades cristãs?… Estamos chegando de uma semana de ver sofredores e excluídos de toda sorte se libertando, revivendo, graças aos milagres da nossa solidariedade?…
Podemos honestamente celebrá-lo e cantar?…
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Estamos iniciando o segundo mês do novo ano. O que está em questão ao realizarmos nossa celebração dominical é a verdade da nossa vida, da nossa fé, do nosso compromisso com JESUS, com o Evangelho do Reino, como discípulos e discípulas, missionários e missionárias. Preparar bem a Campanha da Fraternidade é, com certeza, o grande apelo do momento. Prepararmo-nos para VER bem e em profundidade o problema da “VIOLÊNCIA” em nosso país, concretamente, em nossa vizinhança, nosso bairro, nosso sítio… Nosso JULGAR será feito à luz Evangelho, da mensagem libertadora de Jesus de Nazaré… Nosso AGIR, será nossa resposta concreta aos desafios da “Violência”, a começar pelas coisas que acontecem no nosso lugar… Mas não esqueceremos o desafio geral, a fonte de todas as violências: O SISTEMA CAPITALISTA
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2018, ano de COPA DO MUNDO: ah! se o BRASIL fosse campeão em SAÚDE e EDUCAÇÃO! Ano de ELEIÇÃO: ah! se a gente elegesse governantes comprometidos com a CLASSE TRABALHADORA e a JUSTIÇA SOCIAL, com os oprimidos e excluídos!
CAMPANHA DA FRATERNIDADE/2018:
Tema: “Fraternidade e superação da violência”
Lema: “VÓS TODOS SOIS IRMÃOS E IRMÃS!”
<<Somos seguidores de Jesus. Mulheres e homens que renasceram em Cristo. Dele, recebemos a boa notícia de que somos filhos e filhas de Deus. Somos todos irmãos (Mt 23,8). Nascer, renascer em Cristo, maturar nele; chegar à plenitude como Ele! Somos seus discípulos, aprendizes. Uma vida inteira com os olhos fixos em Jesus (Hb 12,2). Voltados para Ele, vivendo dele, partilhamos a sua própria santidade” (Hb 12,12). Por Ele atraídos, somos enviados como anunciadores da sua presença inaudita. Missionários como Ele, o Missionário do Pai. Discípulos e discípulas da vida plena, missionários e missionárias do Reino da verdade, da graça, da justiça, do amor e da paz. Um Reino de irmãos! (…) A Campanha da Fraternidade acontece no Ano Nacional do Laicato, que tem como tema; “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino”, e como lema: “Sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14). Uma Igreja que anuncia o Reino de Deus, o Reino da paz e da fraternidade. Os leigos e leigas, iluminados e fortificados pela Palavra e pela Eucaristia, serão luz para superar a violência e sal para temperar a fraternidade.>> D. Leonardo U. Steiner – CNBB
3 – DA DIVINA LIBERTAÇÃO
Mc 1,40-45
Em cena, de um lado, um leproso que quer ser curado e aposta no poder de Jesus… do outro, alguém que se compadece e faz valer o seu poder de curar.
Em questão, por uma parte, a lepra, síntese de todos os preconceitos e de todas as exclusões…
por outra, a importância de alguém que vem para romper barreiras, abrir portas e fazer valer a dignidade de toda pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus.
Em pauta, primeiramente, a postura pessoal de cada um, de cada uma de nós, chamados a superar toda hipocrisia e a nos colocarmos diante de Jesus com a consciência sincera de nosso pecado, de nossas fraquezas e misérias, mas inteiramente confiantes na sua misericórdia…
em seguida, nossa atitude frente a todos os que são vítimas do preconceito, da rejeição ou do abandono:
Jesus conta com a gente para continuar hoje, aqui e agora, sua missão libertadora.
Daí por diante, muita coisa poderá acontecer e nossas celebrações e, especialmente, o nosso canto, só farão repercutir o poder da divina misericórdia.
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Hoje é domingo de Carnaval. Vale a poesia, vale o poema do Poeta-Pastor:
<<Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval?… Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Estive recordando sambas e frevos, do disco do Baile da Saudade: Ô jardineira por que estás tão triste? Mas o que foi que aconteceu?…Tu és muito mais bonita que a camélia que morreu!
Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima! É verdade que, quarta- feira, a luta recomeça. mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!>> Dom Helder Camara.
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JESUS
A serviço da vida
Jesus, o Bom Pastor, quer comunicar-nos a sua vida e colocar-se a serviço da vida. Vemos como ele se aproxima do cego no caminho (cf. Mc 10,46-52), quando dignifica a samaritana (cf. Jo 4,7-26), quando cura os enfermos (cf. Mt 11,2-6), quando alimenta o povo faminto (cf. Mc 6,30-44), quando liberta os endemoninhados(cf. Mc 5,1-20).Em seu Reino de vida, Jesus inclui a todos: come e bebe com os pecadores (cf. Mc 2,16), sem se importar que o tratem como comilão e bêbado (cf. Mt 11,19); toca com as mãos os leprosos (cf. Lc 5,13), deixa que uma prostituta lhe unja os pés (cf. Lc 7,36-50) e, de noite, recebe Nicodemos para convidá-lo a nascer de novo (cf. Jo 3,1-15). Igualmente, convida seus discípulos à reconciliação (cf. Mt 5,24, ao amor pelos inimigos (cf. Mt 5,44) e a optarem pelos mais pobres (cf. Lc 14,15-24).
Em sua Palavra e em todos os sacramentos, Jesus nos oferece um alimento para o caminho. A Eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e felicidade: “Aquele que se alimenta de mim, viverá por mim” (Jo 6,57). Nesse banquete feliz, participamos da vida eterna e, assim, nossa existência cotidiana se converte em Missa prolongada. Porém, todos os dons de Deus requerem disposição adequada para que possam produzir frutos de mudança. Especialmente, exigem de nós espírito comunitário, que abramos os olhos para reconhecê-lo e servi-lo nos mais pobres. “No mais humilde encontramos o próprio Jesus” (DCE, 15). Por isso São João Crisóstomo exortava: “Querem em verdade honrar o corpo de Cristo? Não consintam que esteja nu. Não o honrem no templo com mantos de seda, enquanto fora o deixam passar frio e nudez”. D. de Aparecida 353-354
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Como tudo isso tem a ver com a Campanha da Fraternidade deste ano de 2015:
<<FRATERNIDADE: IGREJA E SOCIEDADE>>!
Será da máxima importância as Comunidades Eclesiais de Base estarem mobilizadas para a reflexão, para a oração e para a ação, assumindo esta Campanha, realmente, como coisa sua… como oportunidade única, no sentido de se renovarem e relançarem, na força do Espírito que lhes deu origem, 50 anos atrás, com a CONSTITUIÇÃO PASTORAL SOBRE A IGREJA NO MUNDO DE HOJE (Vaticano, 07.12.1965) e, poucos anos depois, as CONCLUSÕES DE MEDELLÍN (1968). BOA QUARESMA
4 – O Grito da Quaresma!
Mt 6,1-6.16-18
Jejuar… Dar esmola… Orar… Essas palavras têm ainda hoje alguma atualidade e atrativo?… Poderão ainda motivar alguém, sobretudo a juventude, para alguma iniciativa a respeito da própria vida, da vida da humanidade, da vida espiritual?…
Talvez seja apenas questão de entender o espírito da coisa e encontrar os termos de hoje para dizer coisas que continuam sendo importantes, e o serão sempre:
- Disciplinar-se na satisfação dos próprios instintos, no contexto dos apelos consumistas cada vez mais invasivos e insistentes, terá alguma coisa a ver com a saúde física, mental e ambiental, das pessoas e do planeta?… É disso que se trata, quando os antigos falam “jejuar”… O que importa é cada um encontrar o seu “método” de vida…
- Ser solidário com as pessoas e com o planeta, abraçando as grandes causas da justiça e do meio ambiente, sem esquecer as oportunidades do cotidiano, quando te batem à porta… Faz algum sentido?… É disso que se trata, quando os antigos falam “dar esmola”… E há tanto o que cuidar!
- Abrir-se para o Mistério, permitir essa sintonia fina com o Grande Outro, com “fome e sede da Justiça”, acolhendo “os sinais dos tempos” como apelos de Deus…
É algo que tem a ver com você?…
É disso que se trata quando os antigos falam em “oração”… Perda de tempo ou urgência profunda?…
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A celebração desta Quarta-Feira de Cinzas, passados os dias da brincadeira e da descontração, vale como um “Grito”, um alerta. É um convite de JESUS a assumir essas três práticas tradicionais, como jeito sério e eficaz de caminhar para a Páscoa, no seguimento d’Ele, em demanda da Vida Nova e da Terra Prometida! Vamos lá?…
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965).