D. Edvaldo G. Amaral 15 de fevereiro de 2018

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A liturgia da Igreja fixa a maior festa do ano litúrgico, a Páscoa da Ressurreição do Senhor, no primeiro domingo, após a lua cheia da primavera, no hemisfério Norte. Assim, a Páscoa pode ocorrer do domingo, 22 de março, ao domingo, 25 de abril. Por exemplo, no ano passado, foi no dia 16 de abril.  A Quarta Feira de Cinzas este ano é no dia 14 de fevereiro e a Páscoa será no dia 1 de abril.     A história da Igreja conhece longa controvérsia sobre  a fixação do dia da festa da Páscoa, com diversidade de datas entre o Oriente e o Ocidente. Após várias decisões conciliares e decretos papais, finalmente, só nos inícios do século 8º, é que se chegou à unanimidade da data da Páscoa, como conhecemos hoje.

E agora, a pergunta: que tem isso a ver com o Carnaval? Na verdade, não deveria haver nada, absolutamente nada! Mas é que o Carnaval nasceu de uma festa, que os cristãos celebravam na chamada Terça-feira Gorda, com abundante refeição com carne, despedindo-se da carne – em latim “Carnis, vale” – Adeus, carne! –  daí o nome Carnaval. Isso porque no dia seguinte começavam os quarenta dias de jejum, nos quais era rigorosamente proibido comer carne. Acontece que nem existe mais esse jejum de 40 dias, nem os cristãos se despedem de comer carne; nem os que fazem Carnaval  têm nada a ver com a Quaresma, como os que celebram com severidade a liturgia quaresmal,  começada com a Quarta-feira de Cinzas, festejam o Carnaval. Antes, pelo contrário, muitos e sobretudo  jovens de vida cristã comprometida, aproveitam esses dias de feriados para um retiro espiritual, com uma renovação interior e uma séria preparação para o santo tempo quaresmal, que nos leva à celebração da Páscoa do Senhor.

E então, por que o Carnaval ficou vinculado à celebração litúrgica da Páscoa, com a Quaresma e a Quarta-feira de Cinzas? Não há explicação razoável possível. Trata-se de mera inércia histórica, dessas que ficam, porque ninguém tem coragem de mudar. Ainda bem, nos tempos antigos, quando o Carnaval se limitava aos três dias, chamados de folia, e se concluía rigorosamente na chamada “Quarta-feira ingrata”, como diziam os foliões. Hoje, o que acontece em algumas capitais, é que o Carnaval dura quase um mês, invade a Quaresma desde o desfile no Rio das escolas de samba vitoriosas, até outras manifestações da folia durante o tempo quaresmal, que os cristãos consideram sagrado.

Já propus uma vez na CNBB entrar em entendimento com as entidades promotoras do Carnaval, para marcar  data fixa, fora do tempo quaresmal, para eliminar essa esdrúxula e absurda vinculação do Carnaval com o santo tempo da Quaresma. Seria ótimo para os organizadores, como já se manifestou em 2005 o diretor da Liga Independente das Escolas de Samba, Hiram Araujo, que disse na época que a sua idéia esbarrava na força superior da Igreja Católica. Tal proposta é sensata quando propõe data fixa para o Carnaval, longe da Quaresma, por exemplo, no primeiro domingo de fevereiro. Assim, os organizadores do Carnaval não iriam, cada ano, consultar o calendário litúrgico da Igreja Católica para fixar a data do Carnaval (?).

 Ainda espero que um dia o bom senso prevaleça  e se faça  separação entre a festa dos foliões e o santo tempo litúrgico da Quaresma, que nos leva à celebração da Páscoa do Senhor.

Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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