A barra do vestido indiano que recebera na véspera estava toda molhada. Na verdade ele deveria ter suspeitado que isso iria acontecer, mas achou aquele longuinho amassado de alças a sua cara.
Olhava de longe enquanto ela brincava com as ondas que lambiam seus pés. Com um sorriso largo correu para seus braços, rindo da bermuda branca dobrada sobre o joelho.
Carinhosamente a colocou no colo, deitando-a sobre a areia. A praia estava praticamente deserta, a festa de final de ano na casa do melhor amigo estava perfeita. Casa de praia longe da cidade, só amigos íntimos e a mulher da sua vida. O que mais poderia querer?
Os beijos longos, o vento, as risadas e uma paradinha para conversa séria: o futuro deles, juntos, e o mais breve possível. Não aguentaria viver assim por mais tempo.
Os olhos lacrimejavam quando uma mão o tocou nos ombros. Era a esposa trazendo-o de volta.
– O que houve?
– Nada, deve ser a época, sempre me emociona.
Ela sabia disso. Desde que casara que a noite de Reveillon era assim. Ele um pouco ausente, parecendo longe. No fundo ela sabia o porquê.
Eram noites tristes, marcadas por uma dor que nunca passou, o adeus da mulher que mais amou na vida e junto com ela o futuro perfeito, os sonhos e o lar que planejaram e no qual jamais puseram os pés.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
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Imagem enviada pela autora.