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Lendo agora a carta aberta que a jornalista Teta Barbosa escreveu a Danuza Leão, me inspirei a escrever sobre o mesmo tema.

Com muita propriedade Teta Barbosa se refere ao que Danuza Leão escreveu  em sua coluna no jornal O Globo que “’Toda mulher deveria ser assediada”, falando ainda sobre a campanha da atriz francesa Catherine Deneuve em favor de que todo homem deve ter o direito de flertar as mulheres, deixando bem clara a diferença entre flerte ou paquera e assédio.

Danuza Leão, jornalista e escritora, 84 anos e Catherine Deneuve, 74 anos, talvez vivam em mundos um pouco longe da realidade, onde as mulheres ainda sejam vistas como objetos e, portanto, o assédio é comum, aceito e até bem vindo. Algo como se a mulher não for assediada, não estará cumprindo o seu papel de fêmea, que é servir aos desejos do macho. Ambas vivendo em meio ao glamour e as altas rodas da sociedade, provavelmente nunca se depararam com uma mulher espancada ou uma criança abusada. Essa realidade não deve fazer parte do dia a dia delas.

Ora, se uma mulher já viveu por mais de oito décadas e ainda não entendeu que não é um objeto de prazer e sim um ser humano com vontade e vida própria, não vai ser agora que irá compreender que homens e mulheres estavam vestindo preto na entrega do prêmio Globo de Ouro como uma forma de protesto contra os abusos, a violência, os maus tratos, a misoginia, o preconceito, o racismo, enfim, contra uma maneira de agir que vai de encontro aos mínimos direitos que todo ser humano tem.

Ouvi emocionada o discurso de Oprha e não consigo imaginar que uma mulher não tenha, pelo menos, apoiado o que ela falou, em defesa das mulheres que sofreram e ainda sofrem preconceitos, assédios e abusos. Não dá para entender como uma mulher, por mais alienada que seja, ache o assédio normal e até galanteador.

NÃO!!!! O assédio é uma ofensa, um abuso de poder, uma agressão. Nunca algo do qual as mulheres devam se orgulhar de passar ou sentir falta.

Imaginem vocês que, antes dessa “pérola” da escritora, eu já havia começado a ler um livro que ganhei de presente de natal de um amigo e cuja primeira parte fala exatamente da luta das mulheres pela sobrevivência como ser humano através da história. O livro, “Quem é essa mulher – a alteridade do feminismo da obra de Chico Buarque” do pernambucano Alberto Lima, é escrito por um homem que fala da obra musical de outro homem. Poderia ser estranho se não fossem esses dois homens, conhecedores da alma feminina, de sua essência e de sua magnitude. Homens assim que não veem a mulher como um objeto, uma posse, um alvo, são raros, mas existem. E, por isso, são especiais. Ainda bem que, nesse caso, para uma Danuza Leão existem um Chico Buarque e um Alberto Lima. Amém!!!

Então mulheres do meu Brasil, que são conscientes de sua condição de um ser humano especial, pois, geradora da própria vida, não aceita mais a condição imposta por anos de machismo de que é um ser de segunda classe, um objeto que pertencia ao pai e depois ao marido.

Homens pensem bem, a clonagem humana, e aqui não estou discutindo se é correta ou não, prescinde da participação masculina. Em uma inseminação artificial, após a coleta do esperma, a presença masculina se torna dispensável. Já a da mulher é imprescindível para que a gravidez se concretize e nasça um bebê.

Então me respondam de onde tiraram a ideia de que o homem é superior à mulher e de que a mulher é o sexo frágil?

Então vamos deixar de lado essas bobagens machistas e sem noção das Danuzas e Catherines da vida e vamos ler o que nos enriquece e nos melhora como pessoas. Por isso volto a recomendar o livro QUEM É ESSA MULHER. Vamos conhecer um pouco mais das lutas em favor da igualdade de gêneros e mergulhar nas músicas de nosso compositor soberano, entendendo os olhos tristes de Carolina, a janela de Januária,  Teresinha e seus três companheiros, Geni e a ingratidão de uma cidade, as mulheres de Atenas e sua submissão, o destino de Bárbara desesperada e nua, sonhar e cair da cama, se agarrar aos cabelos no tapete aos pés da cama e depois olhos nos olhos querer ver como suporta vê-la tão feliz. São 190 músicas retratando a alma feminina com sensibilidade, história, queda, reerguida e sempre amor, muito amor: “Ah se já perdemos a noção da hora …”

Vamos seguir em frente, não disputando quem é melhor ou superior. Quem está certo ou certa, errado ou errada. Vamos seguir lado a lado, respeitando as diferenças, os limites, as sensibilidades. Ser macho não é contabilizar assédios e transadas. Aliás quem liga pra essa história de ser macho? Importa mesmo é sermos homens e mulheres, seres humanos, iguais em seus direitos, unidos pelo respeito, lutando juntos para deixar para os nossos filhos e filhas, netos e netas, um mundo melhor. Precisamos correr, porque esse, ao que parece, já está com o prazo de validade vencido.

E, parodiando Chico, na minha música preferida dele, quem sabe se assim for, se conseguirmos aprender a sonhar juntos e  a amar mais, daqui a milênios, quando sábios tentarem em vão decifrar os ecos de antigas palavras, fragmentos de cartas, poemas, mentiras, retratos, vestígios de estranha civilização, os amores serão sempre amáveis e futuros amantes, quiçá, se amarão sem saber com o amor que eu um dia deixamos pra alguém.

Obs: A autora é  jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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