Aos poucos as mãos se soltaram. Os dedos que ainda resistiam, segurando pelas pontas suadas já não davam conta. Era hora de ir, pensou. Seguir estrada, sem olhar para trás.
As costas das mãos molhadas tentavam em vão enxugar as lágrimas que embaçavam o caminho. Lembrou do amor, do carinho, das preocupações, da amizade. Tudo jogado para debaixo do tapete, feito história em quadrinhos que termina num grande FIM.
Ainda parecia sentir o cheiro do café que nem mesmo chegou a tomar e da rosa fresca que enfeitava a garrafa azul em cima da mesa na hora do jantar, dando um clima romântico e rústico. Nenhum aceno, nenhuma emoção.
Por certo o jardim sentirá sua falta. Os lençóis da cama perderão seu cheiro, dando espaço a cheiros mais intensos.
Não teve coragem de se virar e olhar. Esperou dobrar a BR para não correr risco de querer voltar e dizer que era tudo um grande engano. Mas não, não faria isso, não outra vez. Não era engano. Nada era igual e ela sabia que tinha algo errado. Cansou de ser jarro, pedra ou tapete. Cansou de compor o ambiente e por certo ele cansara do objeto. Deixou cair algumas folhas, marcando o caminho. Mas o vento forte levou, talvez junto com seu coração. Estava solta, leve, triste, vazia.
Obs: A autora é poeta, administradora e editora da Revista Perto de Casa.
http://pertodecasa.rec.br/
Imagem enviada pela autora.