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Nesses dias, por todo o mundo, as pessoas dizem umas às outras os votos de feliz ano novo. Há quem acredite que, pelo fato de se falar, quase automaticamente, o desejo se torna realidade. Outros pensam que o próprio desenrolar do tempo faz as coisas ficarem melhores. De fato, em todo final de dezembro, deseja-se que o próximo ano seja melhor. No entanto, o que tem ocorrido é que, ao menos recentemente, o mundo tem se tornado menos justo com os trabalhadores e menos respirável. A riqueza se concentra nas mãos de uma ínfima minoria de privilegiados e as condições de vida de bilhões de pessoas são cada vez mais precárias.

Neste 2018, os desafios da paz se tornam mais urgentes, já que os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte prometem ao mundo explodir bombas nucleares que ameaçam não apenas a vida deles, mas de toda a humanidade. No Brasil, a cada dia os trabalhadores e os pobres veem mais direitos adquiridos serem roubados. Na América Latina, o sonho de uma pátria grande solidária exige mais esforços. A guerra dos meios de comunicação contra qualquer transformação do mundo a favor dos empobrecidos continua implacável.

No mundo inteiro, movimentos sociais organizam as bases para uma aliança de toda a humanidade pela Paz, Justiça e Comunhão com o Universo. Grupos da sociedade civil trabalham pelo Conselho de Segurança dos Bens Comuns, principalmente, a água, as sementes e o conhecimento. No Brasil, os grupos sociais reunidos em Frentes se preparam para organizarem referendos revocatórios de todas as medidas anticonstitucionais implementadas por um governo ilegítimo e por um congresso que, em sua maioria, se deixou comprar por empresas privadas.   

Alguns povos tradicionais ainda guardam costumes como, na noite do ano novo, queimar toda a roupa usada e iniciar esse tempo com uma roupa nova, símbolo de vida renovada. Na madrugada do primeiro dia do ano, fieis dos cultos afrodescendentes vão às praias e rios com flores e oferendas aos espíritos do céu e da terra. Em nome de todos os seres humanos, cantam sua disposição de amor e de comunhão universal.

Para 2018, muitas organizações sociais inseridas na caminhada do povo mais pobre planejam, para todos as regiões do Brasil, uma série de congressos de diálogo com a população. Esses congressos culminarão em um grande Congresso do Povo que discutirá o Brasil que a maioria dos brasileiros desejam e pelo qual as diversas categorias de trabalhadores lutam. Em março próximo, cidadãos e cidadãs do mundo inteiro se reunirão em Salvador, BA, para mais um Fórum Social Mundial. Dessa vez, o Fórum terá como tema a resistência do povo e dos grupos sociais como elemento fundamental na construção de um mundo novo necessário e possível.

No Fórum Social, ocorrido em Túnis, na África, em 2015, havia um grande folder no qual estava escrito: “A humanidade precisa de uma verdadeira revolução. Só a nossa ousadia pode torná-la possível”. Essa ousadia comunitária parte da convicção de que o amanhã pode ser diferente. As organizações sociais brasileiras sustentam que, para isso, não podemos aceitar “nenhum direito a menos”.  Elas tecem as condições para que possamos fazer nacionalmente um referendo revocatório que anule as medidas contra o povo tomadas pelo governo nos últimos dois anos. No plano mundial, entram na campanha internacional para 1 – declarar ilegal a pobreza e não os pobres que a sofrem. 2 – organizar a sociedade de modo que a economia e as finanças sirvam para a vida da humanidade e não para o lucro de 60 famílias mais ricas do mundo.  3 – desarmar o mundo e impedir a guerra como negação da vida e da convivência humanas.

Se ao ler essas propostas, você se sente comprometido a trabalhar por elas e a dedicar todo seu esforço para que isso se torne possível, certamente, mesmo antes de alcançarmos esses objetivos santos e espirituais, você já pode sim sentir-se mais realizado como pessoa humana e estará testemunhando que trabalha para que 2018 seja um ano novo mais feliz para toda a humanidade. Para os cristãos, nos alegra mais ainda a fé de que, nesse caminho, estamos sempre acompanhado por Jesus ressuscitado que disse a seus discípulos/as: “Eu estarei com vocês todos os dias, até que esse tempo se complete” (Mt 28, 20).

Obs: O autor é monge beneditino e teólogo católico é especializado em Bíblia e assessor nacional do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, das comunidades eclesiais de base e de movimentos populares.
É coordenador latino-americano da ASETT (Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e autor de 45 livros publicados no Brasil e em outros países.  

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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