Quando, por nove meses, morei em Teresina, ouvi muito o juiz Hércules Quasímodo da Mota Dias me alertar para o fato de que Teresina se escrevia com o esse. E acrescentava: quando se deparar com Teresina com z, fique certo: foi escrito lá fora. Hoje, quando encontro com o u de Aracaju com acento grave, me lembro da advertência, e, não tenho dúvida: é obra lá de fora. Nenhum morador do Aracaju acentua o u, pela total desnecessidade, levando em conta que esse  u dispensa acento desde a década de cinquenta, pelo que me recordo de ter assim aprendido na escola de d. Maria de Branquinha.  

Outro equívoco que vem de fora é acerca da Rua de Laranjeiras. Quando, em lugar de mencionar Rua de Laranjeiras, grifa-se Rua das Laranjeiras, deixa-se revelar a origem estrangeira, na adoção da Rua das Laranjeiras carioca, sede do Fluminense, salvo engano. Também outro, da Praia de Pipa, em Tibau do Sul [Rio Grande do Norte], nas propagandas comerciais, aparece como Praia de Pipa, Praia da Pipa e Praia do Pipa. Qual o correto?

Nesse rumo, dois políticos sergipanos têm o nome adulterado.Um, Edelzio Vieira de Melo. Nas propagandas de casas comerciais situadas na avenida que leva seu nome, de Edelzio passou para Edezio, e como Edezio aparece nos letreiros oficiais. Ora, ora. O homem foi até Governador do Estado, na condição de vice, e a geração futura desrespeita seu nome como está inscrito no registro de nascimento. Outro, Antonio Dultra de Almeida, o primeiro grande intendente de Itabaiana, nome de uma rua imensa, com grande parte sendo tomada pelo comércio local. De Antonio Dultra de Almeida passou a ser Antonio Dutra de Almeida, também perdendo o elle. Se Edelzio era conhecido pelo primeiro nome, Antonio Dultra era chamado pelo sobrenome Dultra: Sinhozinho Dultra. O vulgo cortou uma letra, o elle, e o Poder Público Municipal, tanto do Aracaju como de Itabaiana, seguiu a pista errada e reiterou o equívoco no nome dos dois, justamente nos que eram conhecidos.

De Itabaiana, há outro caso, ainda mais grave: Boanerges Pinheiro de Almeida. Sebrão, sobrinho, captou os demais derivativos com que os nossos conterrâneos mexeram no nome aludido: “Ao de Itabaiana, chamam-no Bonejo e escrevem Boneges e Borasanésio”. E aí peço licença para incluir Orcrido Paes Mendonça, ou seja, Euclides Paes Mendonça. O leitor acha pouco? (2017)

Obs: Publicado no Correio de Sergipe
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras.   

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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