Dasilva 1 de janeiro de 2018

  1. Na véspera do Natal, numa cidade do Sul de Minas, um rapazola disparava pistolas anunciando a entrada do cortejo. À frente, um carro abre-alas da polícia, depois um casal raquítico como parte da sagrada família. Atrás, um carro de bombeiro com Papai Noel mandando balas para os expectadores. Tudo parecia uma perfeita alegoria do que se passa no País. Neste momento de grandes perdas para as classes oprimidas, a desfile, na carona do Nazareno, estimulava a realização do capital. As balas de chumbo presente para garantir essa ordem social. O bom velhinho ao distribuir balas de açúcar folcloriza o medo, mas, quem sabe, é mais eficaz que a força e a coerção.
  2. O “espírito de Natal” virou um discurso que embaralha a mente dos simples e lança uma cortina de fumaça sobre o caos que se abate sobre a nação e projeta um futuro medonho e desafiador. Tudo porque toda pessoa quer ser feliz, com apenas uma diferença – mas uma diferença antagônica – uns querem ser felizes sozinhos e outros estão convencidos de que só é possível ser feliz coletivamente. A busca sem freios da felicidade individual, multiplicou a voracidade dos ricos que aliado à maioria legislativa, executiva e judiciária venais abocanham os direitos e passam por cima da sagrada soberania conquistada com tanto suor e sangue. A mídia e o fundamentalismo abençoam essa usurpação.
  3. Milhões de desempregados e subempregados sofreram os efeitos das “bondades” feitas para sair da “crise” e trazer o progresso (não o desenvolvimento). Porém, distraídos pela propaganda não percebem as consequências da privatização de empresas públicas, do abocanhamento dos recursos naturais e das reformas trabalhistas, sindicais e previdenciárias… A população que já vinha escandalizada e desesperançada com os desmandos de figuras políticas e empresariais que corromperam o poder, pode cair no cinismo, revolta e até na tentação do aventureirismo populista e autoritário. Podem também descobrir que “se o boi soubesse a força que tem, ninguém dominava ele”.
  4. “De tanto ver triunfar as nulidades…ver prosperar a desonra… ver crescer a injustiça, de agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” (Rui Barbosa). Um estudioso afirma que na Bíblia, MEDO aparece 365 vezes (um medo para cada dia!); mas, salientou que no Segundo Testamento a frase mais forte é NÃO TENHA MEDO. Medo físico é necessário; “o contrário de medo não é coragem, é convicção” (P. Casaldáliga). Não ter medo é combater o medo psicológico, o medo imaginário que cultivamos; é crer numa realidade que não se vê, mas que nos faz caminhar como se víssemos o impossível.
  5. “Ontem uma criança que brincava me falou que hoje é semente do amanhã. Para não ter medo que este tempo vai passar. Não se desespere não, nem pare de sonhar. Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs. Deixa a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! Fé na vida, Fé no povo, fé no que virá! Nós podemos tudo! Nós podemos mais! Vamos lá fazer o que será!” Neste fim e começo de ano, como afirmação da Esperança, é preciso gritar acima dos telhados, por ações e palavras, que “Sonho que se sonha só/ É só um sonho que se sonha só/ Mas sonho que se sonha junto, é realidade”. Não tenha medo pequeno rebanho! NÃO TENHA MEDO! NÃO TENHA MEDO DE SER MINORIA!!!.

Obs: Imagem enviada pelo autor (Laerte – Charge na Folha de São Paulo, 26.12.2017)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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