Paulo Rubem Santiago 15 de janeiro de 2018

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POLÍTICA, ECONOMIA E O TRABALHADOR 
O Brasil passou por um golpe e, desde então, foi sequestrado por setores que estão impondo uma agenda ultraneoliberal. O objetivo desta agenda é viabilizar a acumulação do capital em detrimento do trabalhador. A PEC 241 (Proposta de Emenda à Constituição que congelou investimentos com saúde, educação e assistência social por 20 anos) e as reformas trabalhista e da previdência, por exemplo, aumentam os encargos dos trabalhadores, comprimem direitos, cortam investimentos em obras sociais e de infraestrutura… Ou seja, é a estratégia do capital que está sendo colocada em prática pelo governo. A nova lei de terceirização e a reforma trabalhista, já aprovadas pelo Congresso, estão comprimindo a riqueza nacional e aumentando a parcela do lucro, favorecendo o capital em detrimento do crescimento da renda do trabalhador. A lei de terceirização desobriga o patrão dos encargos trabalhistas e reduz o custo do trabalhador. Tudo isso fortalece a dominância do poder econômico.

OS ERROS DE DILMA 
Esta agenda ultraconservadora só pôde ser implantada com a fragilização do Governo Dilma, não é culpa só da direita. Os conservadores aproveitaram o espaço que tiveram para crescer, mas o acúmulo de erros da presidenta Dilma permitiu este cenário. Vale lembrar que logo depois da reeleição, em 2014, a própria Dilma entregou-se para o projeto do capital. Dilma deveria, naquele momento, ter realizado uma cadeia de comunicação para expor para a população as reais razões da crise. Em vez de dialogar com o povo, entregou um conjunto de vantagens para o capital de graça, sem contrapartida, sem compromisso com o emprego. Foi um erro monumental. Ela ganhou a eleição recompondo uma base para a qual virou as costas depois. Colocar o Joaquim Levy no Ministério da Fazenda é governar para o mercado. Dilma não aproveitou o acumulo de forças recomposto na sua reeleição, que estavam dispersas após uma trajetória complicada do governo, com a Lava jato, o Mensalão… Foi um erro político não ter dialogado com o povo e explicado a situação do país… No final de 2014, não havia este descalabro todo na economia, os indicadores estavam ruins, mas o Brasil tinha reservas acumuladas. Mas o PT passou a não falar mais de política econômica com o povo, decidiu falar com os empresários e ficou refém dos agentes econômicos. Dilma deveria ter colocado as cartas na mesa, mostrado os números. Como se permite que a Fiesp vá para as ruas pedir o impeachment quando as indústrias foram as maiores beneficiadas pelo BNDES, pela desoneração tributária? Foi uma incompetência brutal.

PAGANDO A FATURA DO IMPEACHMENT 
Com o impeachment consolidado, o governo Temer assume o país como devedor do patronato. E ele está pagando direitinho a fatura para aqueles que lutaram pelo impeachment. O governo conseguiu, por exemplo, reduzir a inflação graças à recessão que impôs ao país, graças ao vigor da política de austeridade, a priorização do capital… Mesmo quando teve redução da taxa de juros, o ganho do patronato foi grande.

O CANDIDATO DA ELITE ECONÔMICA 
Me preocupa o abandono do debate da política macroeconômica pela esquerda. Sabe o que vai acontecer? No final do ano, os índices econômicos, que se alteraram muito pouco nesta crise, serão colocados na mesa de uma agência de publicidade, que vai criar uma plataforma para o grande candidato do capital. Enquanto a esquerda está preocupada com João Dória e com Jair Bolsonaro, a burguesia está construindo a candidatura do atual ministro da Fazenda (Henrique Meirelles). Vão aproveitar aquele clima de Natal e fim do ano e vão fazer uma grossa manipulação na grande mídia, hipertrofiando dados, apresentando economistas falando do futuro… Vão criar um caldo de cultura tão otimista, que o Meirelles vai faturar a eleição e não vai faltar partidos para dar espaço para ele, que será financiado pela grande burguesia brasileira e pelo capital internacional.

SINDICATOS SEM FOCO 
Os movimentos sindical e social estão tendo um papel reativo às políticas do governo e não um papel propositivo para o país. O movimento sindical vai às ruas para defender o trabalhador das reformas e não para propor algo. Não é só combater a reforma, o movimento sindical precisa criar alternativas para melhorar a situação do trabalhador. Criar, por exemplo, emendas constitucionais que resgatem os direitos… Não espere uma iniciativa deste Congresso conservador, é preciso que os sindicatos lancem uma plataforma para ser discutida, com clareza nas propostas, chamando o povo nas ruas… Os sindicatos, hoje, estão fora de foco. A CUT, como maior central sindical do país, precisa ter um papel estratégico e de vanguarda para pressionar o governo, para chamar uma greve geral… Mas estão mais preocupados em defender o Lula da Lava Jato… Isso drena forças fundamentais dos sindicatos, que deveriam estar trabalhando pela classe trabalhadora. A CUT precisa reavaliar sua tática, não pode se dividir entre o combate às reformas e a defesa do Lula. Os sindicatos devem deixar a defesa do Lula para o PT.

A SAÍDA É LUTAR 
O movimento sindical precisa recompor sua unidade. Além de promover uma greve geral para lutar pelo trabalhador, é preciso lutar contra esta tentativa de Temer comprar o Congresso para barrar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República. Se ele conseguir se livrar, a reforma da previdência vai ser aprovada logo em seguida. Então, estes são os dois principais desafios para os sindicatos: barrar as reformas e impedir a compra do Congresso. Para isso, é preciso organizar uma greve geral. E, em seguida, garantir a retomada da agenda do trabalhador e da luta social.

* Com 62 anos, Paulo Rubem Santiago continua fiel aos sonhos e ideais daquele garoto que chegou em Pernambuco, aos 17 anos, para construir uma vida pautada pela luta em defesa de uma sociedade mais justa. Desde a década de 70, quando começou a militar no movimento estudantil em plena ditadura, Paulo Rubem não parou mais e atuou em diversas frentes na área política: foi presidente da Associação dos Professores do Ensino Oficial de Pernambuco (atual Sintepe), foi diretor-secretário da Associação dos Docentes da UFPE, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores e a CUT, foi vereador em Recife (em 1992, foi reeleito como o mais votado da cidade), foi deputado estadual e deputado federal. Na Câmara Federal, integrou a Frente Parlamentar de Combate à Corrupção e ajudou a construir a Lei Ficha Limpa. Foi um dos responsáveis pela elaboração dos programas de governo do então presidente Lula e sempre figurava nas listas de parlamentares mais influentes do Congresso Nacional elaboradas pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Professor da UFPE há quase quatro décadas, Paulo Rubem continua inquieto. E, principalmente, preocupado com o futuro do Brasil, que vive uma de suas piores crises na política e na economia – e cujas as contas estão sendo pagas pelo trabalhador. Em entrevista ao Blog do EnFrente Bancários, Paulo Rubem analisou a conjuntura atual, disparou críticas para todos os lados e apontou as saídas para que a agenda do trabalhador e a luta social voltem a ter força para vencer o capital.

Obs: O autor é professor e Mestrando em Educação na UFPE
 Foi Deputado Federal 2003-2014.
Criador e 1º. Coordenador da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção (2004)
Na Câmara Federal foi autor da PEC 162, propondo o Plano Nacional de Desenvolvimento Urbano.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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