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Fazendo uma retrospectiva de minha vida – que acho bem interessante – concluí que, até alguns anos atrás, eu havia feito muita coisa interessante, como viajar pelo mundo, estar sempre pronto a ajudar quem precisasse e não fazer mal (intencionalmente) a ninguém. Porém, não me dava conta que, de várias maneiras eu me limitava, não permitindo algumas descobertas e novos conhecimentos.
Por exemplo, era muito nojento. Tinha nojo de tudo, especialmente se fosse pegajoso ou malcheiroso. Também tinha problemas com sangue (embora fosse doador), com ferimentos, curativos, essas coisas. E tinha um senso crítico bem forte, sendo até um pouco exagerado nos julgamentos que fazia.
Após o envelhecimento dos meus pais e a necessidade de mudar-me para São Paulo onde passei a cuidar deles, iniciei uma nova fase em minha vida: a do aprendizado de paciência, aceitação e compaixão. E com isso, pouco a pouco, conforme as necessidades iam surgindo, fui perdendo o nojo, equilibrando melhor minha razão e minha emoção. Nos quatro anos em que cuidei do meu padrasto, aprendi tanta coisa com sua demência! Aprendi a entender o que ele desejava com apenas um olhar, a limpá-lo sem botar as tripas para fora quando ele não conseguia se segurar. A cuidar com amor incondicional daquele ser que apenas sabia que eu cuidava dele e quando me via, um sorriso angelical se estampava em seu rosto.
Aprendi que eu não era ninguém para julgar outras pessoas! Nem a mim! Abrindo, assim, vários novos e vastos horizontes em minha vida.
Quando ele se foi, nem cheguei a sentir o luto pela falta que, claro, eu sentia daquele homem que conviveu conosco por muito mais tempo que o meu próprio pai! Minha mãe se entregou e começou a demenciar lenta e progressivamente. E eu não tinha tempo para me apegar ao passado. Precisava agir rapidamente em benefício da qualidade de vida dela. O que venho fazendo, incansavelmente, até hoje.
Acabei, nestes últimos três anos, a reforçar o aprendizado anterior, além de acrescentar várias outras coisas, como, por exemplo, cuidar de minha própria solidão com amor por mim mesmo, pela minha própria companhia e carinho por todos, mesmo pelo bando de amigos que, pouco a pouco foram se afastando.
E ainda estou lidando (e aprendendo a lidar) com a possibilidade de perder um dos pouquíssimos amigos que restaram. Ele está internado em estado gravíssimo, fazendo hemodiálise e tentando se recuperar para o longo e sofrido tratamento que virá depois. Se houver esse depois… estou bastante triste por esse amigo, que conheço há quase cinquenta anos. Estou triste por não poder fazer nada, nem ao menos visita-lo, pois, minha mãe não aceita minha ausência, nem qualquer outra pessoa cuidando dela.
Assim, só me resta a fé, essa, inabalável, pedindo a Deus pela recuperação dele, para que possamos, um dia, estarmos mais próximos, podermos conversar e rir sobre nosso quase cinquentenário de amizade verdadeira e inabalável.
Resumindo: sou um homem melhor hoje, mas ainda preciso aprender a aceitar que tudo, um dia, acaba. Inclusive eu.

Desejo a todos vocês, que têm sido meus companheiros nestes anos todos, um Natal de paz, de luz, de renovação e de alegrias!

FELIZ NATAL!!!

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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