2018 será ano de eleições. Este o fato mais relevante, deste novo ano que se apresenta carregado de apreensões.
Mas este fato evidente, assinalado com clareza no calendário deste ano, esconde uma realidade mais ampla e complexa, que toma a forma de crise generalizada das instituições públicas, com a consequente perda de sua credibilidade junto à cidadania. E urgente encontrar uma saída para este impasse. Nunca se viu o poder judiciário tão exposto às suas franquezas. E o povo, estarrecido, contempla o triste espetáculo dum presidente comprando o voto dos deputados.
Como um “iceberg” perigoso, os eventos marcados para este ano escondem uma problemática mais pesada do que aquela que aparece na superfície. E´ o momento de dar-nos conta do tamanho dos problemas que estão subjacentes aos fatos programados.
Mais complicado que eleger o Presidente, será enfrentar o desgaste do sistema político brasileiro, que vem emperrando a solução dos nossos problemas. O “presidencialismo de coalização”, que instituiu a troca de apoio por favores políticos e econômicos, se esgotou.
Aí já se desenha o primeiro desafio. As eleições deste ano terão uma incumbência maior. Elas devem sinalizar a vontade popular, que clama pela superação de um sistema político que faz do Congresso Nacional um balcão de interesses, e torna o Presidente avalista de barganhas espúrias.
E assim, cada desafio deste ano, se reveste de abrangência mais ampla.
Quando se fala em privatizações, não basta conferir o preço verdadeiro da empresa vendida. O que urge garantir é a preservação da soberania nacional. Os políticos que não têm a sensibilidade de perceber o que está em jogo com as privatizações, não merecem o voto dos cidadãos brasileiros.
Quando se fala em economia, não está em causa só o funcionamento dos negócios das grandes empresas. Está em jogo a atividade econômica, que toma sentido na medida em que favorece a participação responsável dos cidadãos na produção e comercialização dos bens indispensáveis para a vida digna das pessoas.
Quando se fala em projetos sociais, está em jogo uma visão diferenciada de sociedade. Trata-se de sustentar um projeto de país que lentamente supere suas desigualdades. Por isto, é importante conhecer qual a visão de sociedade dos candidatos que pedem nosso voto.
Quando se fala em educação, trata-se de garantir que as crianças e os jovens tenham não só o acesso a informações técnicas, mas assimilem os valores importantes que servirão de suporte para suas vidas e para sua atuação cidadã responsável e competente.
Estamos, portanto, diante de um ano que nos pede muito mais do que está na agenda oficial.
Às vésperas de 2018, é salutar dispor-nos logo a enfrentar os desafios que ele nos apresenta. Para aproveitarmos as oportunidades que a crise ainda nos proporciona!
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.