Rejane Menezes 15 de dezembro de 2017

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Sempre que o final do ano chega, a proximidade do natal e do início de um novo ano mexe com todo mundo. Uns mais, outros menos. Mas de alguma forma, sempre mexe.

Existem pessoas que sentem muita tristeza nesta época, seja pela perda de entes queridos, seja por algo que não sabe explicar, um amor que acabou, enfim, tendo ou não motivos, sentem-se tristes, como se fosse uma consequência natural desta época do ano.

Outras pessoas se sentem mais felizes, mais animadas, empolgadas. Seja pelo clima que fica no ar, de festa, de alegria, seja pelas compras a fazer, seja pelas férias tão planejadas.

Há também quem goste desta época por razões religiosas, por ser a maior festa do cristianismo, a comemoração do nascimento do salvador do mundo, Jesus Cristo.

Não importam os motivos, o final do ano mexe com cada um de nós, isso não podemos contestar. E, fico pensando, como seria bom se, realmente, aproveitássemos o final do ano para fazer uma revisão de nossa vida durante os últimos 12 meses e, encontrando o que deu errado e, sobretudo, o que fizemos de errado, procurássemos consertar os estragos.

Daí, poderia acontecer outro tipo de nostalgia, de tristeza, o de sentirmos saudade daquilo que gostaríamos de ter sido e não fomos. Já imaginou como seria bom se pudéssemos ter a clareza, a lucidez, de encontrar cada momento em que fomos injustos, faltamos com a caridade, não tivemos paciência com os outros ou nos sentimos donos da verdade? Quantas vezes deixamos de lado a humildade neste ano que termina? Quantas vezes fomos esnobes ou presunçosos? Teríamos a oportunidade de reparar boa parte de nossas falhas, no mínimo sendo corajosos o suficiente para pedirmos desculpas a quem ofendemos.

Vivemos em cidades, mas, às vezes, parece que vivemos mesmo é na selva, sempre alertas e competitivos, para que ninguém nos passe a perna ou se sobressaia, nos deixando para trás.

Temos um grande arquivo em nossa cabeça, cheio de gavetas onde guardamos tudo que nos acontece. Embaixo deste arquivo, tem um tapete para onde varremos, muitas vezes, as nossas sujeirinhas pessoais. Daí, amaciamos o tapete, fechamos as gavetas e seguimos em frente, convencidos de que somos seres humanos perfeitos e superiores.

2017 está sendo um ano difícil para a maioria dos brasileiros. Um ano onde as perdas têm sido maiores que os ganhos para aqueles que suam para ganhar o pão de cada de cada dia. Está sendo um ano difícil para os que trabalham com empenho, que preservam a dignidade e que tem a honestidade não como uma virtude, mas como uma obrigação, como sempre me ensinou o meu pai.

Estamos terminando um ano que gostaríamos que não houvesse existido. Dele, com certeza, não sentiremos saudade. Mas, infelizmente, não podemos simplesmente apagar os desmandos e arbitrariedades acontecidas, mas podemos, pelo menos, tentar evitar que outras coisas ruins aconteçam.

Em 2017 o preconceito ganhou espaço em nosso país, a homofobia, o racismo, a luta de classes, o machismo e a misoginia ganharam fôlego e a intolerância passou a ser a marca de um país combalido, que treme em suas bases e ameaça se despedaçar. E nós? Onde estávamos diante disso tudo?

Bem, no final das contas, no dia 31 de dezembro 2017 acaba mesmo e mais um ano vem aí, um ano cheio de previsões, profecias e misticismo. Um ano que pode ser diferente. Será que nós conseguiremos ser, também nós, diferentes?

Vamos dar adeus a 2017 como Chico Buarque canta em sua música O Velho: O velho de partida, deixa a vida sem saudade (…) Não, foi tudo escrito em vão, e eu lhe peço perdão, mas não vou lastimar”.

E aí quem sabe, depois da despedida,  não criamos coragem de abrir as nossas gavetas e fazer uma arrumação neste emaranhado de ações e sentimentos, dos quais somos feitos? De repente, se a gente consegue arrumar, pelo menos, uma ou outra gavetinha que seja, as resoluções que tomarmos e realizarmos podem nos deixar, ao final do próximo ano, até a voltar a sentir saudade, mas do não do que não fomos. Pode ser até que seja uma saudade doce, uma saudade do que de bom conseguimos fazer.

Quem sabe, em 2018, não conseguimos ser, não mais o que somos, mas quem devemos?
Faça feliz seu ano novo fazendo feliz o natal das pessoas ao seu redor.
Até o ano que vem, quem sabe, com algumas gavetas arrumadas?

Obs: A autora é  jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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