Ina Melo 15 de dezembro de 2017

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O que é ser jovem? Questionava Laura aos vinte anos de idade vendo as amigas de sua mãe, em plena juventude, reclamando da vida. Quase todas vivendo “um faz de conta”, com a desculpa que o sacrifício era para proteger a família. E nessa mesma rotina entrou ela se dedicado em primeiro lugar ao seu trabalho, mas nunca descuidando da família,  passando pelo tempo num marasmo de compromissos sociais e familiares. O que a salvava era as suas constantes viagens,  que lhe dava a oportunidade de vez por outra fugir pelo mundo.

Ao completar cinquenta anos, sozinha e com os filhos casados, resolveu fazer uma faxina no seu interior. Sempre parecera uma mulher forte e decidida. Uma guerreira como a chamavam. Assim, juntando pedaços de vida, fez uma colcha de retalhos e guardou-a. Sem pensar no ontem jogou todos os dados no presente e partiu em busca de novas emoções. Fez as malas, despediu-se de todos e foi em busca dos sonhos. Sim! É possível sonhar em todas as fases da vida.

Partiu de Veneza num Cruzeiro até Luxor. Continuava só. A vida que sempre lhe dera tudo, nunca deixou que tivesse alguém para acompanhá-la nas suas andanças pelo mundo. Feliz, vestida elegantemente, embarcou. O outono se despedia deixando que o vento levasse as folhas douradas das poucas árvores existentes para bem longe. Veneza. Sempre Veneza. Cidade de sonhos e pecados. Debruçada na amurada do navio observava os negros palácios refletidos nas águas do grande canal. Aos poucos a cidade se distanciava. Gaivotas iam e vinham numa total liberdade. Onde seria o seu refúgio?

Hoje era a noite mais elegante do navio. O baile de Gala oferecido pelo Comandante. Laura vestiu um longo preto e tirou do armário do esquecimento o conjunto de pérolas que lhe fez recordar um passado longínquo. Ainda bem que elas não falavam! Pensou com um leve sorriso. Gostou de ver a mulher madura e de bem com a vida. Ao entrar no salão sentiu alguns olhares curiosos voltados para ela. Talvez por não estar acompanhada.

Depois dos cumprimentos formais, saiu de mansinho pelo grande salão repleto de homens de Back-tie e mulheres elegantemente vestidas. A música suave envolvia o ambiente. Risos e taças de champanhe explodiam no ar. Lindas máscaras venezianas complementavam a decoração. Depois da tradicional foto com o Comandante, um grego alto de tez morena, simpático mas sem nenhum traço de beleza tão comum aos deuses da região

Novamente seus pensamentos voaram e com uma taça nas mãos, afastou-se para brindar as entidades mágicas mergulhadas nas profundas e escuras águas do Egeu. Ao levantar a taça ouviu o tintilar dos cristais e alguém dizer: ao amor eterno! Sorvendo o precioso liquido viu à sua frente um homem alto, grisalho e tez dourada, sorrindo feliz. Assustada,  moveu-se um pouco e na claridade reconheceu um velho amigo de um distante e esmaecido tempo.

Armando. O encantador Dom Juan que conhecera num domingo de Carnaval naquela cidade de sonhos. A voz rouca, o cheiro do charuto e as mesmas mãos grandes e macias apertaram as suas, tornando mágico aquele momento  fazendo-a voltar à realidade. Abraçados saíram rodopiando ao som de uma valsa sob um forte cheiro de mar. A noite foi longa e assim retomaram o fia da meada de um amor quase perdido no esquecimento. Foi uma viagem onde sonho e realidade caminharam juntos e desde então nunca mais se separaram. Fim de uma década e recomeço de um sonho.  Veneza. 2000.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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