Desde o dia 19/01 tenho respeitado à determinação dos agentes da Secon, ocupando um ponto um pouco mais abaixo do “canteiro proibido”, na mesma calçada, voltada para a Oswaldo Cruz. Em termos de visibilidade, talvez não seja tão bom, porém o fato é que, embora não seja meu objetivo principal, o faturamento até melhorou.
Quando tudo parecia tranquilo, fui apresentado a outro núcleo de poder da praça.
Duas semanas atrás (02/02), acabei chegando um pouco mais tarde do que gostaria. Depois das dez da manhã, as vagas de carros e os “postos de trabalho” dos ambulantes já estão praticamente todos ocupados. E assim também estava o meu cantinho: transformado num mini-shopping. Impossível tocar ali. Então, como um sem-terra, resolvi cruzar a fronteira, montando meu “acampamento” no canteiro adjacente, situado no limite da área restrita, onde, aliás, vários camelôs já haviam feito o mesmo.
Fui prontamente abordado pelo mágico, que faz pequenos shows para promover a venda de seus kits.
“Você não vai poder ficar! Aqui é só para quem é cadastrado. Vou já chamar o fiscal.”
“Cadê o fiscal? Quero falar com ele.”
Logo chegou o tal fiscal, um senhor à paisana, que se apresentou como “Seu Madruga”. Ele se mostrou muito compreensivo comigo, e explicou que seria melhor eu não ficar ao lado do mágico, pois ambos formamos pequenas plateias, assim atrapalhando um ao outro.
“Venha comigo. Vou lhe arrumar um lugar.”
E me colocou um pouco mais acima, portanto ainda mais infiltrado na área antes dita proibida. Imediatamente meus novos vizinhos protestaram com agressividade. Vendiam capas para celulares e não queriam um músico ao seu lado, porque “onde forma roda não dá movimento”. A discussão acalorada durou alguns minutos, inclusive chamando a atenção dos transeuntes. Seu Madruga então disse que chamaria o “Véio” para decidirem a questão.
O Véio, obviamente um senhor idoso, também à paisana, deu o veredito: “Ele fica aqui.” E logo se retirou.
Meus vizinhos resmungaram, mas acataram a sentença.
Agradeci a Seu Madruga, mas precisava matar uma curiosidade que estava me intrigando:
“Por que o senhor não está usando o uniforme da Secon?”
“Porque eu não sou da Secon. Sou do Sindicato dos Ambulantes. Eu e o ‘Véio’.”
Pude comprovar a legitimidade do poder do sindicato, quando vários fiscais passaram por mim e fizeram que não viram, como se pode ver a 1:09 no vídeo.
No domingo seguinte (09/02), fui direto para o mesmo local, cumprimentei Seu Madruga e o Véio, que estavam lá colocando ordem na casa, e não fui importunado, nem por Secon, nem por camelôs.