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Preciso sair desta casa-casca, não posso ficar sem ver o mundo e as pessoas. Hoje vou conseguir. Destranco a porta e dou dois passos para fora, me vejo na área de saída onde tem um pequeno jardim com flores e folhas.
Não vejo o céu. Dez passos me separam do portão que trás um cadeado na fechadura. Estou com as chaves nas mãos. Três passos. Sinto calafrios não posso seguir, preciso voltar e deitar estou com tonturas.
Minha cabeça arde por dentro, meu coração bate acelerado e minhas mãos suam. Estou horrível, tiveram que raspar minha cabeça para retirar o tumor. Tenho consciência de que este pânico é seqüela do medo da morte. Relembro… “O que tenho doutor? Aqui diz uma mancha no cérebro, mede três centímetros e meio de diâmetro. Se não tenho alternativas pode marcar a cirurgia”.
Dez dias já se passaram, retiraram o nódulo benigno que queria me levar para onde não sei. Estou bem fisicamente e quem me vê me acha bem, mas não estou normal. Tenho medo.
Queria me sentir melhor. Faltam cinco passos e minhas pernas tremem não vou conseguir. Imagino o Senhor dos Senhores ao meu lado dando-me as mãos. Consigo mudar meus pés e chegar ao portão. Giro a chave e abro o cadeado. Puxo a tranca e vejo a rua, o asfalto. Não olho para o céu.
Ouço pássaros, sinto o cheiro do espaço, preciso ir além. Carros passam a poucos metros. Paro diante de mim mesma, quero voltar. Mas não posso, já consegui vir tão longe. Só uma volta na guadra. O caminho é longo preciso dar o primeiro passo.
O Senhor dos Senhores sorri, solta minha mão e diz que me acompanha no olhar. Instantes de angústia, solidão, dor, medo. E a vontade profunda de viver. Me amparo no muro. Fecho os olhos e tudo gira ao meu redor. Respiro fundo e caio em mais um passo que me levará a sair deste pavor súbito para sempre.